Com R$65,5 bi em dívidas, Odebrecht pede uma das maiores recuperações judiciais do Brasil

Por Aluisio Alves

S?O PAULO (Reuters) - Cerca de tr?s anos ap?s ter sido atingida pelos efeitos de uma profunda recess?o no Brasil e das investiga??es da opera??o Lava Jato, a Odebrecht formalizou nesta segunda-feira seu pedido de recupera??o judicial, com d?vidas de 65,5 bilh?es de reais, um dos maiores processos do tipo na hist?ria no pa?s.

O pedido, apresentado ? Justi?a de S?o Paulo, ocorreu quase tr?s semanas ap?s a Atvos, bra?o de agroneg?cio, ter sido a primeira a unidade do grupo a pedir recupera??o judicial. O pedido apresentado ? Justi?a nesta segunda-feira exclui, al?m da pr?pria Atvos, a Braskem, a empreiteira OEC, a Ocyan, a incorporadora OR, a Odebrecht Transport e o estaleiro Enseada.

Em comunicado, a companhia informou que o processo envolve 51 bilh?es de reais de d?vidas concursais, ou seja, pass?veis de reestrutura??o. Outros 14,5 bilh?es de reais s?o compostos sobretudo por d?vidas lastreadas em a??es da Braskem e n?o pass?veis de reestrutura??o. O montante tamb?m exclui d?vidas cruzadas entre as unidades do grupo, de cerca de 30 bilh?es. O processo envolve as controladoras da Odebrecht, Kiepe e Odbinv.

No documento apresentado ? Justi?a, ao qual a Reuters teve acesso, a Odebrecht afirma que a soma de todos esses valores chega 98,5 bilh?es de reais.

'Nossa decis?o foi o caminho encontrado para que possamos preservar a empresa, empregos e ao mesmo tempo permitir que nossos credores tenham a maior recupera??o poss?vel de seus receb?veis', disse em entrevista ? Reuters o presidente-executivo da Odebrecht SA, Luciano Guidolin.

O pedido de recupera??o judicial exp?e o fracasso das conversas da Odebrecht com seus maiores credores financeiros. Na semana passada, o presidente-executivo do Bradesco, Octavio de Lazari, disse que os grandes bancos do pa?s negociavam uma recupera??o extrajudicial da Odebrecht, processo negociado que em geral descarta reestrutura??o de d?vidas, usando em vez disso um alongamento. Foi este o caminho usado por uma das unidades do grupo a Ocyan.

Um dos ativos mais valiosos do grupo, a Braskem, vinha tendo o controle negociado pela Odebrecht para a LyondellBasell, mas as conversas para a venda foram encerradas no come?o deste m?s. Segundo o documento apresentado ? Justi?a, a Braskem respondia por 79,4% da receita bruta do conglomerado em 2018.

Segundo tr?s fontes familiarizadas com a situa??o, de forma sigilosa alguns pedidos de execu??o de garantias come?aram a ser feitos em maio, pedidas pela Caixa Econ?mica Federal, ap?s lhe ter negado o pedido para receber como garantia a??es da Braskem, a exemplo do que a Odebrecht j? fizera com BNDES, Ita? Unibanco, Bradesco e Santander Brasil.

Uma das primeiras execu??es ? das garantias pela Caixa foi a ligada a d?vidas da Odebrecht com o banco ligadas ? constru??o do est?dio do Corinthians, em S?o Paulo.

A Odebrecht tem 18,1 bilh?es de reais em d?vidas com bancos sem garantia real, sendo 7 bilh?es com o BNDES, 4,75 bilh?es com o Banco do Brasil, e 4,1 bilh?es de reais com a Caixa. Outros 14,5 bilh?es t?m garantias reais como contrapartida: 4,37 bilh?es com o Bradesco, 3,1 bilh?es com o BB, 3 bilh?es com o BNDES e 3,5 bilh?es com o Ita? Unibanco.

Procurada, a Caixa afirmou que n?o comentar? o assunto.

Em comunicado interno enviado a funcion?rios, ao qual a Reuters teve acesso, Guidolin diz que a companhia foi obrigada a pedir recupera??o judicial e que essa medida lhe dar?, como garantidora de parcela importante dos financiamentos tomados pelas empresas operacionais 'tranquilidade, transpar?ncia e resili?ncia para reorganizar a sua estrat?gia de forma coordenada com os seus credores'.

Atingida pela opera??o Lava Jato, que desvendou um multibilion?rio de esquema de corrup??o envolvendo sobretudo contratos com estatais, a empresa criada em 1944 teve presos v?rios de seus principais executivos e linhas de financiamento interditadas para uma d?vida que chegou a 110 bilh?es de reais.

Com as receitas em forte queda, a companhia passou a vender ativos (Odebrecht Ambiental, Embraport, Via Rio, Via 4, Gale?o, e Supervia), processo que n?o foi suficiente para equilibrar receitas e despesas. Com isso, a empresa que j? chegou a ter 193 mil funcion?rios em 2013, reduziu esse quadro para 45 mil diretos e indiretos.