'Outra pandemia': violência doméstica aumenta na América Latina em meio a isolamento
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Por Lucila Sigal, Natalia A. Ramos Miranda, Ana Isabel Mart?nez e Monica Machicao
BUENOS AIRES/SANTIAGO/CIDADE DO M?XICO/LA PAZ, 27 Abr (Reuters) - Os isolamentos em toda a Am?rica Latina est?o ajudando a frear a dissemina??o da Covid-19, mas t?m uma consequ?ncia terr?vel e inesperada: um pico de liga??es para disques-den?ncia indica um aumento de abusos dom?sticos em uma regi?o na qual quase 20 milh?es de mulheres e meninas sofrem viol?ncia sexual e f?sica a cada ano.
Em cidades como Buenos Aires, Cidade do M?xico, Santiago, S?o Paulo e La Paz, fam?lias e indiv?duos est?o confinados em casa de maneira in?dita, muitas vezes s? tendo permiss?o para sair para comprar itens essenciais ou para emerg?ncias.
Procuradores, equipes de apoio a v?timas, movimentos femininistas e a Organiza??o das Na??es Unidas (ONU) dizem que isto causou uma disparada de casos de viol?ncia dom?stica contra as mulheres, e citam um n?mero crescente de chamadas para os telefones de den?ncia.
Em alguns pa?ses, como M?xico e Brasil, tem havido um aumento nos relatos formais de abuso, enquanto em outros, como Chile e Bol?via, se v? uma queda nas queixas formais.
Procuradores e a ONU Mulheres disseram que este ?ltimo fen?meno provavelmente n?o se deve a uma diminui??o da viol?ncia, mas ao fato de as mulheres estarem menos capacitadas a pedir ajuda ou denunciar abusos pelos canais normais.
'O salto da viol?ncia n?o nos surpreendeu, ? o desencadeamento de uma viol?ncia que j? estava nas pessoas', disse Eva Giberti, fundadora do programa V?timas Contra a Viol?ncia da Argentina, que tem um disque-den?ncia para as mulheres relatarem abusos.
'Em circunst?ncias sociais normais, isso estava limitado at? certo ponto.'
O servi?o de emerg?ncia 137 para v?timas de abuso da Argentina, apoiado pelo Departamento de Justi?a, viu um aumento de 67% nos pedidos de ajuda em abril na compara??o com o ano anterior desde que um isolamento de ?mbito nacional foi imposto em 20 de mar?o.
Em um relat?rio divulgado na quarta-feira passada, a ONU Mulheres disse haver ind?cios de um aumento da viol?ncia contra mulheres no M?xico, no Brasil e na Col?mbia e uma duplica??o do n?mero de feminic?dios na Argentina durante a quarentena, citando um observat?rio de mulheres de Mar del Plata.
Antes da pandemia, o governo argentino estima que uma mulher era assassinada a cada 23 horas.
A viol?ncia dom?stica 'parece ser outra pandemia', disse Luc?a Vassallo, cineasta cujo document?rio 'Disque 137' examina a quest?o.
'ELAS N?O OUSAM SAIR'
A preocupa??o crescente com os abusos dom?sticos ? global, e existe o temor de que as v?timas estejam sendo silenciadas na It?lia, que os pedidos de ajuda das mulheres estejam aumentando na Espanha e que os sistemas para evitar o abuso infantil nos Estados Unidos estejam sendo prejudicados pelo isolamento.
Na Am?rica Latina, o temor ? o de que a viol?ncia contra as mulheres, que j? era prevalente, esteja sendo exacerbado ainda mais. Ao longo do ?ltimo ano, a regi?o viu grandes marchas e greves de mulheres contra as agress?es e abusos de homens.
'Em uma situa??o de confinamento, o que est? acontecendo ? que as mulheres est?o trancadas com seus pr?prios abusadores em situa??es nas quais t?m v?lvulas de escape limitadas', explicou Maria Noel Baeza, diretora regional da ONU Mulheres, ? Reuters.
'No ano passado, tivemos 3.800 feminic?dios na regi?o, quantos mais teremos neste ano?'
No Chile, a ministra de Assuntos das Mulheres disse que as liga??es de den?ncia de abusos dom?sticos aumentaram 70% no primeiro final de semana da quarentena. O governo refor?ou os canais de aconselhamento e procurou manter os abrigos para mulheres em risco abertos.
Evelyn Matthei, prefeita de Providencia, um bairro de classe alta de Santiago, disse ? Reuters que as chamadas para um escrit?rio local que oferece ajuda legal, psicol?gica e social aumentara ao menos 500% durante o isolamento.
Os relatos formais de viol?ncia dom?stica, por?m, recuaram 40% na primeira metade de abril no Chile, de acordo com a Procuradoria-Geral, o que a ONU e procuradores disseram se dever ? restri??o de movimentos das mulheres.
'Isto provavelmente tem a ver com o fato de que existe viol?ncia dentro de casa, mas que as mulheres n?o podem sair, elas n?o ousam sair', disse Matthei.
No Estado de S?o Paulo, que ? o mais atingido pela pandemia e que imp?s medidas de isolamento abrangentes, houve um aumento de 45% nos casos de viol?ncia contra mulheres nos quais a pol?cia foi acionada no m?s passado na compara??o com o ano anterior, de acordo com o F?rum Brasileiro de Seguran?a P?blica.
No M?xico, as queixas de viol?ncia dom?stica ? pol?cia aumentaram cerca de um quarto em mar?o em rela??o ao ano anterior, mostraram dados oficiais.
Na Col?mbia, as liga??es di?rias para denunciar a viol?ncia dom?stica a um disque-den?ncia nacional das mulheres aumentaram quase 130% durante os 18 primeiros dias da quarentena, segundo cifras do governo. O isolamento do pa?s foi prorrogado at? 11 de maio.
(Reportagem adicional de Julia Symmes Cobb, em Bogot?, e Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro)
Escrito por Reuters
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