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Barragem da Vale em Brumadinho se rompeu por liquefação, dizem especialistas

Placeholder - loading - Vista da barragem de rejeitos da mineradora brasileira Vale que entrou em colapso em Brumadinho 10/12/2019 REUTERS/Washington Alves
Vista da barragem de rejeitos da mineradora brasileira Vale que entrou em colapso em Brumadinho 10/12/2019 REUTERS/Washington Alves

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Por Marta Nogueira e Christian Plumb e Luciano Costa

RIO DE JANEIRO/S?O PAULO (Reuters) - O rompimento de uma barragem da Vale em Brumadinho (MG), em 25 de janeiro, foi resultado da 'liquefa??o est?tica' dos rejeitos dentro da estrutura, concluiu um painel de especialistas contratado pela assessoria jur?dica externa da mineradora para avaliar as causas t?cnicas do desastre que matou mais de 255 pessoas.

Em relat?rio publicado nesta quinta-feira, o painel pontuou que a estrutura n?o continha drenagem interna suficiente e, portanto, tinha um alto n?vel de ?gua no talude a jusante.

'Isso fez com que uma parte significativa dos rejeitos permanecesse saturada, o que ? um pr?-requisito para a liquefa??o est?tica n?o drenada', disse o documento.

Uma autoridade do governo mineiro afirmou em fevereiro, em entrevista ? Reuters, que tudo indicava que o desastre teria ocorrido por liquefa??o, quando uma estrutura s?lida perde resist?ncia pela a??o da ?gua, por exemplo.

Esse fen?meno j? ocorreu em outros grandes desastres no mundo em estruturas com o mesmo m?todo de constru??o de Brumadinho, com tecnologia de alteamento a montante.

O sistema a montante custa menos que outros tipos de design, mas apresenta maior risco de seguran?a, porque suas paredes s?o constru?das sobre uma base de res?duos, em vez de em material externo ou em terra firme.

A liquefa??o, com o maior ac?mulo de ?gua na estrutura, foi tamb?m o motivo apontado para o rompimento de barragem da Samarco (joint venture da Vale com BHP) em novembro de 2015, que utilizava o mesmo m?todo de alteamento.

A Vale e seus principais executivos foram criticados por pol?ticos e promotores por n?o terem prevenido o desastre em Brumadinho.

A Ag?ncia Nacional de Minera??o (ANM) tamb?m publicou um relat?rio em novembro, apontando que a mineradora teria detectado anomalias antes do rompimento, mas n?o teria reportado ? autarquia, o que impediu a tomada de medidas cautelares que poderiam ter evitado o rompimento.

No entanto, o painel --que n?o teve como objetivo apontar responsabilidades pelo desastre--, concluiu que nenhum dos dispositivos de monitoramento detectou precursores do problema.

'Em vez disso, o rompimento da barragem foi s?bito e abrupto, decorrente de altas tens?es de cisalhamento no talude a jusante da barragem e da resposta fr?gil e n?o drenada dos rejeitos', apontou a an?lise.

Segundo o relat?rio, que foi divulgado pela Vale, tamb?m n?o houve atividade s?smica ou registro de detona??es antes do rompimento da barragem, enquanto caracter?sticas do projeto e da constru??o da Barragem I est?o entre os fatores que contribu?ram para seu rompimento.

'Especificamente, o projeto resultou em uma barragem ?ngreme, com falta de drenagem suficiente, gerando altos n?veis de ?gua, os quais causaram altas tens?es de cisalhamento dentro da barragem', afirmou.

O presidente do painel, Peter Robertson, evitou perguntas em uma coletiva de imprensa em S?o Paulo sobre se o relat?rio mostrava se a Vale teria feito o suficiente para evitar o desastre e se estava ciente do risco, dizendo que quest?es de responsabilidade estavam sendo examinadas por um painel em separado.

O outro comit? ainda est? investigando e n?o h? cronograma sobre quando finalizar? seus resultados, disse a Vale.

CONDI??ES DE INSTABILIDADE

Na conclus?o do relat?rio, os especialistas afirmaram que a experi?ncia com rompimentos anteriores de barragens de rejeitos mostra que eles raramente se devem a uma s? causa e listaram diversos pontos que criaram as condi??es de instabilidade na barragem da Vale.

Dentre eles, o documento disse que o gerenciamento da ?gua dentro da bacia de rejeitos ?s vezes permitia que o l?quido chegasse perto da crista da barragem, resultando no lan?amento de rejeitos fracos perto da crista.

Tamb?m afirmou que um recuo no projeto empurrou as partes superiores do talude para cima dos rejeitos finos e mais fracos, e que a falta de drenagem interna significativa resultou em um n?vel de ?gua elevado na barragem, principalmente na regi?o do p? da estrutura.

O relat?rio citou ainda precipita??o regional alta e intensa na esta??o chuvosa e alto teor de ferro, que resultou em rejeitos pesados com cimenta??o entre part?culas.

'Esta cimenta??o gerou rejeitos r?gidos que apresentavam comportamento potencialmente muito fr?gil se sujeitos a um gatilho que os levasse ? condi??o n?o drenada', afirmou.

No entanto, o painel frisou que a estrutura 'n?o mostrou sinais de instabilidade, como grandes deforma??es que gerassem rachaduras e abaulamentos, antes do rompimento'.

Robertson, consultor geot?cnico e ex-professor, disse que ficou claro que a Vale e os consultores contratados para inspecionar a barragem de Brumadinho estavam cientes dos problemas com excesso de ?gua.

'? justo dizer que eles estavam cientes do n?vel alto da ?gua e estavam tomando medidas para baix?-lo, e os n?veis da ?gua estavam caindo lentamente', disse ele.

O colapso de Brumadinho liberou uma onda de lama, que atingiu mata, rios e comunidades da regi?o, al?m de refeit?rio e ?rea administrativa da pr?pria Vale, durante a hora do almo?o. Grande parte das v?timas fatais era de funcion?rios da mineradora.

Escrito por Reuters

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