Capa do Álbum: Antena 1
A Rádio Online mais ouvida do Brasil
Antena 1
Ícone seta para a esquerda Veja todas as Notícias.

PERFIL-Apostas e astúcia de Guedes serão testadas em governo Bolsonaro

Placeholder - loading - Imagem da noticia "PERFIL-Apostas e astúcia de Guedes serão testadas em governo Bolsonaro"

Publicada em  

Por Marcela Ayres

BRAS?LIA (Reuters) - Com apostas certeiras sobre a economia que lhe deram fama e fortuna no mercado financeiro, o economista Paulo Guedes, guru do candidato ? Presid?ncia Jair Bolsonaro (PSL), lan?ou suas cartas sobre o cen?rio eleitoral ainda em 2016, quando avaliou que um outsider que encarnasse a volta ? ordem num pa?s destro?ado por den?ncias de corrup??o poderia sagrar-se vencedor na corrida ao Pal?cio do Planalto.

O nome que lhe veio ? mente para representar essa alternativa, contudo, n?o foi do capit?o da reserva, mas do apresentador global Luciano Huck, que passou a flertar com a possibilidade de sair candidato em meio a, segundo conta, in?meras conversas com Guedes.

'Tudo que aconteceu do anti-establishment, dessa nega??o da pol?tica tradicional, o Paulo antecipou isso antes de o (Donald) Trump ser eleito, antes de o (Jo?o) Doria ser eleito em S?o Paulo', disse Huck, que atribui ao economista a responsabilidade por destravar 'um processo muito rico' pelo qual disse seguir passando.

Enquanto o apresentador da TV Globo somava novas conex?es e adentrava o terreno da pol?tica, a articula??o por uma chapa encabe?ada por Bolsonaro tamb?m ganhava corpo, mas ainda sem um apoio contundente pelo lado econ?mico.

Quando o tamb?m liberal Gustavo Franco, economista que presidiu o Banco Central e participou da formula??o do Plano Real, anunciou que estava deixando o PSDB para ingressar no Partido Novo, em setembro do ano passado, dois apoiadores de Bolsonaro se atentaram para o refor?o que uma investida do tipo daria ao time do capit?o.

O empres?rio Winston Ling --da fam?lia sino-brasileira dona da holding ?vora, fornecedora de bens intermedi?rios para ind?stria de consumo, e do Instituto Ling, que concede bolsas de estudo no exterior-- foi quem capitaneou a iniciativa, sugerindo a Bia Kicis, amiga de Bolsonaro, que propusessem um encontro entre o deputado e Guedes.

Nenhum dos dois conhecia o economista pessoalmente, mas foram fisgados pelos artigos que ele vinha escrevendo, com cr?ticas vorazes ? velha polariza??o entre PT e PSDB, que teria aberto o flanco ? direita para a ascens?o de Bolsonaro.

'No primeiro encontro Jair gostou muito dele', afirmou Bia, dizendo enxergar entre eles uma franqueza em comum.

'Eu tinha certeza que o Jair para estourar, para crescer como ele cresceu, ele precisaria que os liberais estivessem com ele. Os conservadores ele j? tinha todos, mas precisava tamb?m do aval dos liberais', acrescentou ela, rec?m-eleita deputada federal pelo PRP com o slogan 'a federal do Bolsonaro no DF'.

A reuni?o ocorreu num hotel na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, na manh? de 13 de novembro de 2017. Mas Guedes s? migrou para a campanha de Bolsonaro com a desist?ncia de Huck de participar das elei??es, no in?cio deste ano.

Defensor do Estado m?nimo, ele teve como desafio alinhar o discurso do candidato ? bandeira liberal, diametralmente oposta ? empunhada por Bolsonaro em d?cadas como parlamentar. No Congresso, o deputado votou contra o fim do monop?lio da Uni?o no petr?leo e nas telecomunica??es, tamb?m se posicionando contra medidas de ajuste que cortaram benef?cios ao funcionalismo.

Principal fiador da guinada, Guedes, de 69 anos, levou ? campanha o peso de um Ph.D. na Universidade de Chicago, considerada o templo mundial do liberalismo, e o plano de promover radicais reformas econ?micas, incluindo a tribut?ria e da Previd?ncia, al?m de privatiza??es para quitar parte da d?vida p?blica brasileira.

Atual CEO da Bozano Investimentos, o economista tamb?m carrega no curr?culo passagens como professor pela PUC, FGV e Instituto de Matem?tica Pura e Aplicada (Impa), no Rio, al?m de uma temporada na Universidade do Chile, sob a ditadura de Augusto Pinochet no in?cio dos anos 1980.

Fora da academia, ele j? presidiu o Ibmec e investiu em diversas empresas de educa??o quando ? frente da BR Investimentos, incluindo a Abril Educa??o, atual Somos Educa??o, e a Anima. ORADOR NATO

Figura carimbada do c?rculo financeiro, Guedes ? um camale?o da orat?ria e ajusta com facilidade o tom e a forma de seu discurso. Com um semblante s?rio, que ele cerra quando contrariado, mas um jeit?o coloquial e pronunciado gosto pela conversa, ele n?o tarda em ganhar a aten??o daqueles a quem se dirige. Com isso, passa longe do figurino de tecnocrata que n?o raro costuma ser vestido por economistas renomados no pa?s.

Num almo?o em Bras?lia no fim de agosto, ele alternou momentos de an?lise sociol?gica, citando Jean-Jacques Rousseau e John Locke, com piadas e met?foras para defender a cartilha liberal.

Ao variado p?blico, que inclu?a desde membros do movimento conservador cat?lico Regnum Christi a uma t?cnica do Tesouro Nacional, ele recorreu ? figura folcl?rica de Saci Perer? para criticar o orienta??o social-democrata que, a seu ver, foi adotada por todos os governos desde a redemocratiza??o.

'? s? perna esquerda, ? um Saci Perer? que s? pula com a perninha esquerda', disse ele, arrancando risos de uma plateia com cerca de 40 presentes. 'Se s? pula com uma perna, como ? que vai correr, como ? que o pa?s vai sair do lugar?', completou.

Sobre o crescimento de Bolsonaro nas pesquisas a despeito da sua aus?ncia em debates, avaliou que o desejo da grande imprensa parecia ser de coloc?-lo num cercadinho, mas que o povo se identificava com sua autenticidade.

'As pessoas falam assim: qual ? a f?rmula exata de Pi? Como ? que voc? calcula a ?rea de um c?rculo? O que voc? acha da morte de Mao Ts?-Tung? Espera a?, eu (Bolsonaro) defendo princ?pios e valores, est? cheio de cara que sabe responder isso tudo e est? destruindo o pa?s. E eu vou chamar pessoas para me ajudar. Se errar, troco as pessoas', afirmou Guedes, em nome do candidato do PSL.

De certa maneira, o receitu?rio foi seguido ? risca numa campanha marcada pelo posicionamento contra o sistema e, sobretudo, contra o PT. Em diversos momentos, Bolsonaro saiu pela tangente quando perguntado sobre economia, delegando a Guedes a tarefa de responder pela ?rea. Por sua vez, o economista seguiu refor?ando a convers?o do candidato ao liberalismo, principalmente em encontros fechados com investidores e agentes do mercado.

'Ele conquista 100 por cento', opinou o gestor da RCF Capital e dono da Granja Faria, Ricardo Faria, que foi a tr?s encontros com Guedes organizados por bancos de investimento neste ano.

'A gente tinha uma d?vida se o Paulo de fato estava engajado no projeto. Eu mesmo fiz essa pergunta duas vezes para ele: Paulo, vai ter paci?ncia?', revelou Faria, que, no entanto, se disse convencido pelo fato de o economista demonstrar tranquilidade quanto ao alinhamento recente de Bolsonaro ?s ideias do livre mercado, em contraposi??o ao que o empres?rio teme ser 'de novo um governo de esquerda com pensamento errado, com mais quatro anos de um Estado maior'.

Apesar das posi??es estatizantes e corporativistas expressas por Bolsonaro no passado, Guedes costuma minimizar as chances de os dois entrarem em rota de colis?o, afirmando que o candidato ? Presid?ncia aprende r?pido. Tamb?m n?o deixa de aproveitar o ensejo para cutucar economistas que integraram o governo de Jos? Sarney, reacendendo uma rixa antiga.

'Do Plano Cruzado at? o Plano Real, que foi aprender a usar a pol?tica monet?ria, levou oito anos. Do Plano Cruzado at? o c?mbio flex?vel, levou 12 anos --e sempre em crise. Hoje os economistas tucanos fazem pose de 'somos excelentes e temos as solu??es'. N?o foi nada assim. N?o foi isso que eu vivi. O que eu vivi com eles foi o contr?rio', afirmou ele, sobre o grupo formado por profissionais como Persio Arida, Luiz Carlos Mendon?a de Barros e Andr? Lara Resende.

'Se esse pessoal todo levou 20 anos para chegar no lugar certo, por que o Jair n?o pode levar 6 meses, 8 meses, pra avan?ar nessa dire??o? Minha brincadeira ? que ele est? aprendendo muito mais r?pido do que essa turma toda. Mesmo sabendo que ele gosta de matar aula pra ca?ar voto', arrematou.

CR?TICO MORDAZ

Um dos fundadores do Pactual, Guedes bateu de frente com os economistas de Sarney quando o atual BTG Pactual ainda buscava autoriza??o do governo para se transformar num banco de investimento, o que demorou a acontecer em fun??o da forte indisposi??o entre as partes.

?cido opositor do controle inflacion?rio proposto pelo Plano Cruzado, Guedes foi apelidado de Beato Salu pelo grupo que ent?o integrava a equipe econ?mica, em refer?ncia a um personagem da novela 'Roque Santeiro', que profetizava o fim do mundo. Para revidar a alcunha com a qual fica bravo at? hoje, passou a cham?-los de 'ca?adores de boi no pasto'.

Com o tabelamento de pre?os em 1986, houve forte aquecimento do consumo e, ao mesmo tempo, desincentivo ao abastecimento. O governo chegou a mobilizar a pol?cia para confiscar bois no pasto, alegando que os criadores eram respons?veis pelo sumi?o da carne nas prateleiras. Com o tempo, ca?ar boi no pasto virou sin?nimo de buscar solu??es de fachada para problemas econ?micos mais profundos. E a aposta de Guedes de que o Cruzado faria ?gua rendeu gordos lucros ao Pactual.

'? um economista macro que eu jamais conheci outro igual. Ele sabe. Mexeu ali vai acontecer isso aqui, mexeu l? vai acontecer isso ali. A gente sempre soube se posicionar basicamente na vis?o dele e acho que grande parte do sucesso do Pactual foi com essa vis?o', afirmou o financista Luiz Cezar Fernandes, que convidou Guedes a fundar a institui??o que nasceu como distribuidora de t?tulos em 1983.

Para Luiz Cezar, o guru de Bolsonaro n?o ir? jogar a toalha no primeiro entrevero com o capit?o da reserva, temor que tem sido levantado por parte do mercado diante do g?nio forte de ambos.

'Diferente de algum economista muito acad?mico, ele conhece a vida, ele ganhou dinheiro, ele soube construir empresas, criou todo esse conceito de educa??o no Brasil, um dos primeiros investimentos em educa??o foi ele que viu. Ent?o ele ? um vision?rio. Independentemente de n?o ter trabalhado no governo, ele j? esteve sentindo o lado real da economia, apanhando e batendo. ? verdade que no governo ? tudo diferente, por?m eu acho que ele tem capacidade de sobreviver.'

SINTONIA EM XEQUE

N?o ? como v? uma ala de economistas, que tem apontado contradi??es em discursos mais recentes do l?der nas pesquisas de inten??o de voto. Bolsonaro j? baixou o tom em rela??o ? urg?ncia da reforma da Previd?ncia, vista como imprescind?vel por Guedes, e ? possibilidade de privatizar estatais.

'Eu tenho d?vidas se ? ing?nuo ou c?nico (crer num governo Bolsonaro liberal)', disse o economista e ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman.

'Parece que a gente est? acreditando em um conto de fadas que n?o ? real. N?o ? uma quest?o de personalidade, ? uma quest?o de cren?as. Todas as cren?as em particular do Bolsonaro n?o indicam que seja um programa liberal, mas mais importante do que isso ? o seguinte: voc? vendeu esse programa liberal para a popula??o? N?o. Esse ? o ponto. Como ? que faz para fazer com que eles cumpram?', questionou Schwartsman, criticando o endosso do mercado ao candidato, apesar da superficialidade do debate econ?mico e das propostas apresentadas.

Depois de se ver no centro de uma pol?mica sobre a CPMF, o pr?prio Guedes resolveu submergir. Ap?s circularem not?cias na imprensa de que estaria aventando reviver o impopular tributo que incide sobre movimenta??es financeiras, ele chegou a afirmar que, na verdade, seu time estudava um imposto nesses moldes que viria em substitui??o a outros, dentro de uma ampla reestrutura??o tribut?ria.

Bolsonaro, entretanto, bradou diversas vezes que a CPMF n?o estaria sobre a mesa e que Guedes teria cometido um 'ato falho'.

Investiga??o aberta pela Procuradoria da Rep?blica no DF contra o economista tamb?m ajudou na sua decis?o de seguir, por ora, longe dos holofotes. A suspeita do MPF-DF ? de que Guedes teria cometido crimes em opera??es com fundos de pens?o de empresas estatais.

O economista negou quaisquer irregularidades e apontou, via advogados, 'perplexidade' com uma investiga??o ?s v?speras das elei??es feita em cima de 'relat?rio manifestamente mentiroso' da Superintend?ncia Nacional de Previd?ncia Complementar (Previc), acrescentando que o investimento questionado n?o implicou qualquer preju?zo aos fundos de pens?o. ?BULLSONARO?

Por enquanto, as disson?ncias n?o foram suficientes para azedar o humor dos mercados que, com a in?rcia de Geraldo Alckmin (PSDB) nas pesquisas, j? tinham abra?ado de vez a candidatura do parlamentar.

Desde que Bolsonaro terminou o primeiro turno com larga vantagem sobre o petista Fernando Haddad, o d?lar e a curva de juros de longo prazo seguiram em queda at? atingirem nesta semana seu menor valor desde maio, num rali chamado pelo Citi de 'BullSonaro'.

Caso ven?a as elei??es, Bolsonaro j? disse que caber? a Guedes o comando de um superminist?rio da Economia, que reunir? as pastas da Fazenda, do Planejamento e da Ind?stria, Com?rcio Exterior e Servi?os (MDIC), assim como a Secretaria Executiva do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).

Segundo Luiz Philippe de Orleans e Bragan?a, tetraneto de d. Pedro 2? e que foi eleito deputado federal por S?o Paulo pelo mesmo partido de Bolsonaro, Guedes est? mobilizando especialistas 'do mais alto quilate' em grupos de trabalho para estruturar as propostas econ?micas. Ele pr?prio integra uma dessas c?lulas, sobre rela??es exteriores, e defendeu que as medidas devem sim ir adiante, ainda que numa velocidade distinta da desejada pelo mercado.

'Eu vejo que um (Guedes) est? apontando o que deve ser feito e outro (Bolsonaro) est? fazendo um cerceamento, um jeito de ser encaminhado. ?s vezes a coisa n?o est? popularmente bem digerida e pode afetar timing do processo. Agora o casamento do objetivo ? total', disse o pr?ncipe, que chegou a ser cogitado como vice para a chapa de Bolsonaro.

O presidente do Sebrae, Guilherme Afif, v? firmeza nas posi??es liberais de Guedes, que foi o respons?vel por elaborar seu programa econ?mico quando concorreu ? Presid?ncia em 1989, um projeto que considera 'mais atual do que nunca'.

Se naquela ?poca a plataforma n?o foi suficiente para alavancar a candidatura de Afif, que terminou a corrida em sexto lugar, desta vez h? na avalia??o do empres?rio um clamor mais forte por um Estado menos centralizador, mas capitalizado o suficiente para garantir recursos em ?reas-chave, notadamente educa??o, sa?de e seguran?a.

'Mas o importante n?o ? s? aceita??o do mercado, ? o convencimento do Congresso. Esse ? o grande desafio, o desafio pol?tico', ponderou. 'Uma andorinha n?o faz ver?o', completou Afif sobre o que vem sendo um fulgurante voo de Guedes, pelo menos at? agora.

Escrito por Redação

Últimas Notícias

  1. Home
  2. noticias
  3. perfil apostas e astucia de …

Este site usa cookies para garantir que você tenha a melhor experiência.