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PERFIL-Bolsonaro, a encarnação do antipetismo que vai estrear como presidente

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Por Ricardo Brito

BRAS?LIA (Reuters) - O capit?o da reserva do Ex?rcito e deputado federal Jair Bolsonaro, de 63 anos, foi eleito presidente da Rep?blica neste domingo ap?s uma forte campanha nas redes sociais embalada pelo antipetismo, refor?ada por um discurso contra o estabilishment pol?tico e de defesa intransigente de valores conservadores, e marcada por inflamadas declara??es com arroubos autorit?rios.

Bolsonaro deixou para tr?s advers?rios tradicionais e m?quinas partid?rias, e derrotou no segundo turno o petista Fernando Haddad na campanha mais polarizada da hist?ria, na qual foi acusado de ser racista, mis?gino e contr?rio a minorias, al?m de simpatizar com a tortura e defender a ditadura militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985.

O pouco atuante parlamentar --com quase tr?s d?cadas como deputado federal com baixa produ??o legislativa-- ter? pelos pr?ximos quatro anos, a partir de 1? de janeiro de 2019, o desafio de reverter a divis?o do pa?s agravada pela campanha eleitoral, gerar postos de trabalho em um pa?s com cerca de 13 milh?es de desempregados e retomar o crescimento econ?mico.

Para tanto, segundo pessoas pr?ximas a ele, o presidente eleito vai amenizar o discurso beligerante, pregando a uni?o dos brasileiros, e come?ar a articular a montagem de uma base de apoio no Congresso para aprovar uma agenda de reformas que, al?m de medidas de est?mulo econ?mico e ajuste fiscal, ter? como eixo uma proposta de reforma da Previd?ncia.

CONSTRU??O

A candidatura do capit?o da reserva come?ou a ser gestada logo ap?s a elei??o presidencial de 2014, quando a petista Dilma Rousseff venceu o tucano A?cio Neves. Na ocasi?o, Bolsonaro -- rec?m-eleito deputado mais votado do Rio de Janeiro, mas longe dos holofotes-- j? se intitulava um candidato de direita ?sem vergonha?, com a defesa da redu??o da maioridade penal e a flexibiliza??o das leis trabalhistas.

O ent?o pr?-candidato passou a circular pa?s afora em voos de carreira para se tornar conhecido. Nesse ?nterim, deixou o PP --um dos principais partidos envolvidos na opera??o Lava Jato--, migrou para o PSC e chegou ao PSL.

Para dar visibilidade ?s suas a??es, Bolsonaro contou com um grupo restrito de pessoas, segundo o assessor de imprensa do gabinete, Eduardo Guimar?es. Foram assessores, os filhos (tr?s s?o parlamentares) e o pr?prio deputado que gravavam, editavam, escreviam e publicavam em cada uma das redes. Esse foi o principal canal para mobilizar seus apoiadores.

Em uma esp?cie de voo praticamente solo, longe do escrut?nio di?rio da imprensa e do tradicional jogo de poder de Bras?lia, o deputado se firmou como o antipol?tico no momento em que importantes lideran?as eram tragadas por esc?ndalos revelados pela Lava Jato.

O envolvimento de tucanos em den?ncias de corrup??o levou-o a se colocar como a ant?poda do PT, no momento de enfraquecimento do partido com sua principal lideran?a, o ex-presidente Luiz In?cio Lula da Silva, preso desde abril.

O agora presidente eleito passou ileso pelo mar de acusa??es que envolveram importantes pol?ticos do pa?s. ? r?u, no entanto, em dois processos no Supremo Tribunal Federal (STF) no epis?dio em que, em 2014, disse que n?o estupraria a deputada Maria do Ros?rio (PT-RS) porque ela ?n?o mereceria?. Assim que ele assumir o mandato, as a??es ficar?o congeladas at? ele deixar a Presid?ncia.

Os petistas insistiram na candidatura de Lula, que liderava as pesquisas ao Pal?cio do Planalto, mas foi barrado com base na Lei da Ficha Limpa at? a menos de um m?s do primeiro turno, quando foi substitu?do por Fernando Haddad.

Durante esse per?odo, Bolsonaro vinha se consolidando como o principal nome na corrida presidencial nos cen?rios sem Lula, numa resili?ncia que quebrou a aposta dos principais advers?rios de que o ent?o candidato do PSL, com seu discurso beligerante, iria ?desidratar? e perder for?ar por n?o ter forte estrutura partid?ria nos Estados nem tempo de r?dio e televis?o para fazer propaganda --dois ativos que as campanhas consideravam imprescind?veis para vencer a disputa.

Pouco depois do in?cio da campanha na TV, foi v?tima de um atentado ? faca em uma agenda de campanha em Juiz de Fora (MG) que, para al?m de suspender inicialmente a artilharia dos advers?rios contra o presidenci?vel, gerou um intenso notici?rio sobre ele, que tinha apenas 8 segundos de programa oficial.

PERCAL?OS

Do hospital, onde ficou internado por tr?s semanas, Bolsonaro assistiu ao crescimento das suas inten??es de voto e teve de administrar pol?micas de auxiliares pr?ximos, dando mais trabalho do que a muni??o dos advers?rios. Ele reprimiu seu vice na chapa, o general da reserva do Ex?rcito Hamilton Mour?o, que fez cr?ticas ao d?cimo terceiro sal?rio e defendeu uma nova Constitui??o sem a participa??o de eleitos pelo povo.

?O vice n?o apita nada, mas atrapalha muito?, disse Bolsonaro pouco antes do primeiro turno sobre Mour?o.

Outra pol?mica foi o fato de o economista Paulo Guedes, j? indicado por ele como superministro da Economia, ter feito uma defesa da recria??o de um tributo nos moldes da CPMF.

Bolsonaro blindou Guedes --chamado por ele de ?posto Ipiranga? e esp?cie de fiador do seu futuro governo junto ao mercado financeiro pela defesa que faz de uma agenda de reformas e liberal. Disse que Guedes --que tem propostas opostas ao hist?rico de atua??o corporativista dele no Legislativo-- foi alvo de um mal entendido.

No segundo turno, o presidenci?vel teve de intervir para reduzir os estragos com a veicula??o de um v?deo de um dos filhos, o deputado federal reeleito Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), no qual defendeu o fechamento do Supremo.

'O pessoal at? brinca que para fechar o STF voc? n?o manda nem um jipe, manda um soldado e um cabo. Se voc? prender um ministro do STF, voc? acha que vai ter uma manifesta??o popular?', questionou ele, em v?deo de meses atr?s.

Em meio ? rea??o de ministros da corte e outras autoridades, Bolsonaro desautorizou o filho. 'Se algu?m falou em fechar o STF, precisa consultar um psiquiatra', disse.

O capit?o da reserva tamb?m se envolveu em uma s?rie de pol?micas com a imprensa e elegeu como principal inimigo a Folha de S.Paulo --jornal que publicou uma reportagem na qual afirma que empres?rios simp?ticos a ele bancaram um esquema de mensagens em massa por WhatsApp contra petistas.

A pedido da chapa de Haddad, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) abriu uma investiga??o contra Bolsonaro que, mesmo ap?s eleito, poder? levar ? cassa??o do mandato.

'A Folha de S.Paulo ? a maior fake news do Brasil. Voc?s n?o ter?o mais verba publicit?ria do governo', afirmou Bolsonaro, em v?deo que foi veiculado em ato de apoio ? sua candidatura a uma semana do segundo turno.

Nesse mesmo discurso, Bolsonaro afirmou que haver? uma faxina ?muito mais ampla? de advers?rios. ?Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos n?s. Ou v?o para fora ou v?o para a cadeia. Esses marginais vermelhos ser?o banidos de nossa p?tria?, disse.

Apesar do discurso de colocar a imprensa sob permanente tens?o, que tem resson?ncia entre apoiadores, h? quem aposte que ele vai moderar o tom como presidente eleito.

?Uma coisa ? voc? na campanha eleitoral falar mal da Constitui??o e assumir uma postura que, pelo menos aparentemente, contraria a Constitui??o, e outra coisa ? chegar ao poder central da Rep?blica?, disse o ex-presidente do STF Carlos Ayres Britto, que foi sondado --mas j? negou-- assumir o Minist?rio da Justi?a no governo Bolsonaro.

PRIORIDADES

Sem dar muitos detalhes de propostas, o presidente eleito j? afirmou que pretende a partir de agora montar a equipe de ministeri?veis sem contar com o apoio direto de dirigentes de partidos pol?ticos. Quer somente t?cnicos e j? disse que vai reduzir ? metade o n?mero de pastas --atualmente s?o 29 com esse status.

Na forma??o do minist?rio, ter? de acomodar interesses das frentes parlamentares que o apoiam, como as bancadas da seguran?a p?blica, evang?lica e do agroneg?cio. Ao mesmo tempo, buscar a forma??o de uma base de apoio no Congresso para aprovar propostas, como as reformas da Previd?ncia e tribut?ria (que ainda n?o est?o fechadas), e acalmar parte da bancada do PSL, que se tornou a segunda maior da C?mara na onda bolsonarista e quer algu?m do partido para comandar a Casa.

Bolsonaro j? deu sinais de que n?o se oporia ? continuidade do atual presidente da C?mara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), mas, segundo aliados, ainda n?o h? nada certo.

?A velha pol?tica n?o tem mais espa?o. N?s estamos vivendo a era Bolsonaro agora. Que ? o fim do toma l? d? c?, do balc?o de neg?cios, da sopa de letrinhas que tem que arregimentar uma s?rie de partidos para aprovar projetos?, disse o empres?rio Junior Bozzella, eleito deputado federal pelo PSL de Bolsonaro.

Devido ao atentado e por estrat?gia de campanha, o agora presidente eleito s? participou de dois debates ainda no primeiro turno e n?o teve suas ideias escrutinadas por advers?rios e imprensa.

O tempo dir? se Bolsonaro --que n?o apresentou durante a campanha um consistente plano de governo, mas conseguiu o respaldo do eleitorado para seu primeiro cargo no Executivo como presidente da Rep?blica-- se consolidar? como uma nova era.

Escrito por Redação

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