PERFIL-Saudado como 'mito' por seguidores, Bolsonaro é criticado por radicalismo e discriminação
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Por Ricardo Brito
BRAS?LIA (Reuters) - A verborragia nas declara??es e o jeito simples galvanizam ardorosos apoiadores que celebram o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) como 'mito' e o defendem nas ruas e nas redes sociais, ao mesmo tempo em que outra legi?o, de cr?ticos, o acusa de discrimina??o, de ser preconceituoso e avalia que ele vai morrer na praia na campanha presidencial.
A menos de tr?s meses das elei??es presidenciais, o capit?o do Ex?rcito da reserva consolidou-se como o l?der nas pesquisas de inten??o ao Pal?cio do Planalto no papel de franco atirador, no cen?rio prov?vel que n?o prev? o ex-presidente Luiz In?cio Lula da Silva.
Essa 'franqueza' dele tem sido apontada, por entusiastas, como uma de suas principais virtudes e tamb?m como uma de suas principais fragilidades na disputa --ele empata com Lula no quesito rejei??o, segundo recente pesquisa CNI/Ibope.
Declara??es em apoio ? ditadura militar --recentemente comparou a um 'tapa no bumbum' execu??es determinadas pelo ex-presidente Ernesto Geisel, segundo revelou documento da CIA-- e pol?micas que j? viraram investiga??es criminais --ele ? r?u em dois processos no epis?dio em que, em 2014, disse que n?o estupraria a deputada Maria do Ros?rio (PT-RS) porque ela 'n?o mereceria' e tamb?m ? alvo de den?ncia de racismo num evento que disse que 'quilombolas n?o servem nem para procriar'-- t?m aumentado a preocupa??o em aliados.
Essas falas j? lhe renderam acusa??es de homof?bico, mis?gino e racista.
Na den?ncia ao Supremo Tribunal Federal (STF), a procuradora-geral da Rep?blica, Raquel Dodge, afirmou que as 'manifesta??es feitas pelo acusado, de incita??o a comportamento e sentimento xenof?bico, refor?am atitudes de viol?ncia e discrimina??o que s?o vedadas pela Constitui??o e pela lei penal'.
Bolsonaro sempre negou, em declara??es p?blicas e tamb?m nos autos dessas investiga??es que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF), ter cometido crime em rela??o a esses epis?dios.
REDES SOCIAIS
Aos 63 anos, Jair Messias Bolsonaro coloca-se como o nome ao Planalto contra o establishment pol?tico, boa parte do qual dizimado pela opera??o Lava Jato, e como um outsider, mesmo tendo sete mandatos de deputado (27 anos de Congresso) e passado por v?rios partidos.
? uma grande mudan?a de perfil para quem, at? pouco tempo atr?s, tinha como principal foco de atua??o pol?tica a defesa, no Congresso, de demandas corporativas das For?as Armadas.
O deputado filiou-se no in?cio do ano ao Partido Social Liberal (PSL), legenda pela qual disputar? a Presid?ncia e que dever? ter no primeiro turno somente 8 segundos em cada bloco de 12 minutos e 30 segundos na propaganda eleitoral de r?dio e TV, um dos principais meios para transmitir as ideias e programas do candidato.
Desde a elei??o presidencial de 1989, a campanha na TV --aliada aos palanques nos Estados-- tem tido grande influ?ncia na corrida ao Planalto. Bolsonaro n?o tem nenhum dos dois. A aposta de seus apoiadores, ainda que receiem o in?cio da campanha eleitoral e a 'invisibilidade' advinda dela, ? que as redes sociais v?o subverter essa ordem.
'Essa elei??o vai se definir entre a pol?tica tradicional e a rede social', disse o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do parlamentar.
Por ora, o pr?-candidato tem sido tratado, de maneira geral, com desd?m por pol?ticos de partidos tradicionais --acreditam se tratar de uma bolha que estoura nas elei??es. Tanto que, dificilmente, vai fechar alian?a com algum partido para 2018.
O deputado conta com 5,3 milh?es de f?s no Facebook, tem 623 mil assinantes no canal do Youtube e quase 1,2 milh?o de seguidores no Twitter --s? perde nesse ?ltimo quesito, entre os pr?-candidatos a presidente, para a ex-ministra Marina Silva (Rede), conforme o site Torabit, especializado em an?lise de redes sociais.
A opera??o para dar visibilidade ao trabalho dele nas redes sociais envolve apenas seis pessoas, nas contas do assessor de imprensa de Bolsonaro, Eduardo Guimar?es. S?o assessores, o filho e vereador no Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro, e o pr?prio deputado que gravam, editam, escrevem e publicam em cada uma das redes.
Esse ? o principal canal para mobilizar seus apoiadores nas viagens que faz, em voos de carreira, aos Estados. Neles, geralmente aparece chegando a aeroportos ovacionado aos gritos de 'mito'.
'Nas posi??es dele, ele ? muito enf?tico realmente. Quando entra na discuss?o, ele faz valer a opini?o dele da maneira mais enf?tica poss?vel', disse ? Reuters Frederico D'?vila, um dos diretores da Sociedade Rural Brasileira e um dos coordenadores de Bolsonaro para o setor agropecu?rio.
'Mas ele ? um cara brincalh?o, afetuoso, risonho. ? um cara acess?vel, ele deixa as pessoas agarrarem ele, abra?ar ele, tirar foto com ele, grava recado no celular das pessoas, percebe a condi??o humana de cada um', acrescentou.
CONSELHEIRO
Por ora, mesmo liderando a corrida nos cen?rios sem Lula, que est? preso, Bolsonaro n?o tem uma estrutura de campanha predefinida e chega ? conven??o sem qualquer partido formalmente aliado --ap?s acertos com PR e PRP para indicar o vice terem naufragado nos ?ltimos dias.
O presidenci?vel tamb?m tem contado com uma restrita lista de apoiadores de peso no pa?s em prol do seu plano presidencial. O economista Paulo Guedes --cotado para ser o ministro da Fazenda caso seja eleito-- ? um dos raros a trabalhar pelo capit?o da reserva, numa rela??o que nasceu praticamente do acaso.
No final do ano passado, segundo Guedes, o economista encontrou-se com Bolsonaro em uma sala reservada de um hotel no Rio de Janeiro. A reuni?o foi intermediada por um conhecido do economista que mora fora do pa?s, a pedido de interlocutores do deputado.
O pr?-candidato do PSL disse que queria ajuda para lidar com assuntos econ?micos, mas Guedes afirmou que na ocasi?o n?o poderia porque estava trabalhando para construir a candidatura do apresentador Luciano Huck, segundo relato do pr?prio economista ? Reuters.
O deputado pediu-lhe que, se Huck desistisse, poderia ajud?-lo nessa ?rea. A falta de preparo econ?mico ? uma das cr?ticas feitas ao pr?-candidato do PSL.
Recebeu um sim dele e, com a sa?da do p?reo do apresentador uma semana depois, Guedes --economista com Ph.D. na Universidade de Chicago, considerado um templo mundial do liberalismo- virou o conselheiro de Bolsonaro, que historicamente defendeu a presen?a firme do Estado.
'Gostei do Paulo, veio no quartel-general do inimigo e falou a verdade', disse Bolsonaro ao final daquele encontro no hotel, segundo relato feito por Guedes.
Em tom humilde, o pr?-candidato tem dito que 'n?o entende' de economia, mas tem se reunido duas vezes ao m?s com Guedes, al?m das habituais trocas de mensagens por WhatsApp com seu conselheiro.
?N?o posso ser acusado de mergulhar o Brasil nessa situa??o de quase insolv?ncia por n?o entender do assunto, o presidente ? um t?cnico, n?o vai jogar bola, n?o vai entrar em campo, tem que ter discernimento, humildade e for?a para buscar solu??es para os problemas', disse Bolsonaro, em sabatina no in?cio de julho.
SEGURAN?A
A parte mais evidente das ideias de Bolsonaro est? na seguran?a p?blica, quando faz um enf?tico discurso em defesa da possibilidade de o cidad?o ter direito ao porte de armas para combater a viol?ncia.
Na rela??o com o Congresso, mesmo filiado a um partido que hoje tem apenas oito deputados e nenhum senador, advoga o apoio das legendas a propostas de interesse do seu eventual governo por temas.
O parlamentar disse que s? n?o topa o apoio no Legislativo do que ele chama de 'extrema esquerda' --PT, PCdoB e PSOL. Nessa l?gica, ele tem focado como alvo preferencial Lula.
(eportagem adicional de Eduardo Sim?es, em S?o Paulo)
Escrito por Redação
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