PERFIL-Vaidoso e exigente, Meirelles tenta emplacar visão liberal para chegar ao Planalto
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Por Patr?cia Duarte
S?O PAULO, 2 Ago (Reuters) - Vaidoso e exigente no trabalho, Henrique Meirelles, que se descreve como um 'liberal cl?ssico', tenta neste ano realizar um desejo que surgiu quando comandava o Banco Central no governo Lula: obter um mandato para trabalhar no terceiro andar do Pal?cio do Planalto, onde fica o gabinete presidencial.
H? nove anos, quando se filiou ao ent?o PMDB, pensou em voos mais altos, mas sem for?a pol?tica para tanto naquele momento procurou se cacifar para ser vice na chapa encabe?ada por Dilma Rousseff, escolhida pelo ent?o presidente Luiz In?cio Lula da Silva para suced?-lo. Nem isso conseguiu. Dilma n?o gostava dele, e o PMDB preferiu para esse papel o nome do ent?o presidente do partido e da C?mara dos Deputados, Michel Temer.
Neto e sobrinho de pol?ticos goianos, Meirelles nasceu em An?polis (GO) em 31 de agosto de 1945, mas s? em 2002 entrou para a pol?tica ao se lan?ar candidato a deputado federal pelo PSDB, sendo o mais votado no Estado.
Logo depois, no entanto, abriu m?o do mandato e deixou o partido para aceitar convite de Lula para presidir o Banco Central, num momento de turbul?ncia nos mercados financeiros devido ? elei??o do petista. Ficou no cargo durante os oito anos do governo Lula, tornando-se o mais longevo comandante do BC.
Ajudou o Brasil a dar saltos importantes, como chegar ao grau de investimento e passar pela crise financeira global de 2008/09 sem grandes arranh?es. Admirado pelos mercados financeiros, em fun??o da posi??o ortodoxa na economia, entregou por tr?s anos a infla??o abaixo do centro da meta oficial no per?odo que presidiu o BC.
O sucesso conseguido naquele per?odo tem sido usado na pr?-campanha deste ano, por meio de v?deos e posts nas redes sociais com o slogan 'Chama o Meirelles', passando a imagem de que quando a economia vai mal ele ? chamado para resolver.
'Quem j? ajudou o Brasil a enfrentar e vencer duas crises econ?micas?', pergunta um v?deo curto na p?gina do MDB no Facebook, que termina afirmando: 'Experi?ncia faz toda diferen?a. Chama o Meirelles.'
Num pa?s dividido e de opini?es cada vez mais radicalizadas, o ex-ministro gosta de se descrever como um 'liberal cl?ssico'.
'A palavra que eu me defino melhor ? liberal. Eu sou liberal. Liberal no sentido cl?ssico, no sentido ingl?s, de quem defende a liberdade na economia, na pol?tica, na democracia', disse em entrevista ? Reuters em maio.
'Essa posi??o conservadora no Brasil est? muito confusa, o que quer dizer isso? Quer dizer viol?ncia, quer dizer radicalismo? N?o. Ent?o eu prefiro a vis?o cl?ssica do liberal, no sentido do liberalismo. Liberdade econ?mica para crescer, para empreender, liberdade de opini?o, de voto, no sentido de indeped?ncia dos Poderes e livre mercado, n?o h? d?vida.'
NOVO FHC?
Ao assumir o Minist?rio da Fazenda ap?s o afastamento de Dilma da Presid?ncia da Rep?blica, j? no governo Temer e com a economia em forte recess?o, Meirelles talvez tenha apostado no caminho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
O tucano assumiu a Fazenda em 1993, tamb?m depois de um impeachment --do ent?o presidente Fernando Collor de Mello-- e num momento de forte crise econ?mica. No minist?rio, Fernando Henrique reuniu a equipe que elaborou o Plano Real. Com o fim da infla??o trazido pela nova moeda, o tucano se elegeu presidente.
Com o acirramento da crise econ?mica em 2015 e 2016, sobretudo no campo fiscal, antes de acertar com Temer, Meirelles chegou a negociar tamb?m com Lula para voltar ao governo do PT. Especialmente em 2016, quando combinou com Lula e at? com a ex-presidente Dilma sua ida ao Minist?rio da Fazenda no lugar de Joaquim Levy.
Mas os planos n?o sa?ram do papel. Dilma continuava n?o gostando de Meirelles e preferiu colocar Nelson Barbosa ? frente da pasta. E o ex-presidente do BC passou a negociar com Temer.
Ao assumir o cargo no atual governo, Meirelles prometeu colocar a economia nos eixos e acertar as contas p?blicas. Inicialmente conseguiu vit?rias importantes: o mau humor generalizado dos empres?rios foi revertido e o teto de gastos, que limitou o crescimento dos gastos p?blicos por pelo menos uma d?cada, foi aprovado pelo Congresso Nacional.
Auxiliares apontam justamente o trabalho duro como uma das caracter?sticas do ex-ministro. Por outro lado, o pr?-candidato tentava na Fazenda manter um hor?rio regrado para o almo?o e ter condi??es de jantar em casa, raramente estendendo o expediente no minist?rio para al?m das 20h.
'Workaholic total, adora trabalhar', resumiu um ex-auxiliar sobre o ex-ministro, conhecido por ser muito exigente no trabalho.
Conhecido pela vaidade em rela??o a seus projetos pessoais e ao desempenho nos cargos que ocupou, na Fazenda acompanhava todas as not?cias a respeito de si pr?prio e era um voraz usu?rio do Whatsapp, segundo relato do ex-auxiliar.
Seu trabalho no minist?rio, no entanto, sofreu o baque da dela??o de executivos da J&F, que atingiu em cheio o presidente Michel Temer em maio de 2017, o que acabou impedindo a aprova??o da reforma da Previd?ncia, essencial no ajuste fiscal, porque o presidente gastou praticamente todo o seu capital pol?tico para barrar duas den?ncias no Congresso.
Sem essa reforma, a confian?a dos agentes econ?micos diminuiu em rela??o ao reequil?brio das contas p?blicas. E a perspectiva de recupera??o da economia em 2018, que j? vinha sendo sucessivamente revisada para baixo ap?s fracos indicadores de atividade do in?cio do ano, sofreu tamb?m o impacto da greve dos caminhoneiros em maio, quando ele j? n?o estava mais ? frente da Fazenda.
POR CONTA PR?PRIA
Com sua principal bandeira eleitoral --a recupera??o da economia-- debilitada e atrelado a um governo de impopularidade recorde, Meirelles tem enfrentado dificuldades para decolar nas pesquisas de inten??o de voto, aparecendo com apenas cerca de 1 por cento.
O patrim?nio pessoal do ex-ministro, no entanto, ajudou a dar f?lego ? sua pr?-candidatura dentro do MDB.
Da ?ltima vez que declarou publicamente seu patrim?nio, quando concorreu a deputado federal em 2002, Meirelles disse possuir 45 milh?es de reais. De l? para c?, a fortuna cresceu.
S? de servi?os prestados ? iniciativa privada, incluindo a holding J&F, dos irm?os Joesley e Wesley Batista, Meirelles recebeu mais 200 milh?es de reais por trabalhos feitos de 2012 a 2015. Os fartos recursos contaram a favor, com caciques do MDB calculando que, ao usar de seu pr?prio dinheiro na candidatura, Meirelles pouparia o fundo partid?rio.
Formado em engenharia pela Universidade de S?o Paulo (USP), com mestrado em administra??o na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Meirelles participou de programa avan?ado em administra??o em Harvard. Na d?cada de 1970 entrou no BankBoston, onde construiu uma carreira bem-sucedida nos Estados Unidos e chegou a ser presidente global da institui??o.
Para n?o dizer que sua imagem nunca foi arranhada diante dos investidores, a filia??o ao ent?o PMDB em 2009, quando comandava o Banco Central, causou um certo mal-estar. Muitos no mercado acharam estranho ter um presidente do BC, que at? hoje n?o tem independ?ncia formal, filiado a um partido pol?tico.
Meirelles deixou o PMDB e se filiou ao PSD diante da possibilidade, que n?o foi para frente, de disputar a Prefeitura de S?o Paulo em 2012.
A pr?-candidatura ? Presid?ncia em 2018 surgiu ainda no PSD, mas com a perspectiva de apoio do partido na disputa ao PSDB, de Geraldo Alckmin, Meirelles optou por retornar ao MDB.
Entre as posi??es que ocupou entre sua sa?da do BC e o trabalho na Fazenda, Meirelles foi presidente do conselho da J&F Investimentos --holding que controla a JBS-- e do conselho de administra??o da Azul Linhas A?reas.
Escrito por Redação
SALA DE BATE PAPO