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EXCLUSIVO-Petrobras ignorou alertas sobre comerciante de petróleo envolvido em corrupção

Placeholder - loading - Sede da Petrobras no Rio de Janeiro. REUTERS/Sergio Moraes
Sede da Petrobras no Rio de Janeiro. REUTERS/Sergio Moraes

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Por Gram Slattery

RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Petrobras encontrou atividade suspeita em seu neg?cio de comercializa??o de petr?leo --e n?o conseguiu par?-la-- seis anos antes de um suposto esc?ndalo de corrup??o naquela unidade em 2018, de acordo com tr?s fontes com conhecimento da situa??o e documentos vistos pela Reuters.

Uma investiga??o interna de 2012 na estatal de petr?leo mostrou mais de duas d?zias de casos em que os traders no escrit?rio da Petrobras em Cingapura pagaram a mais em neg?cios de combust?veis, disseram as fontes.

Grandes empresas de petr?leo frequentemente compram e vendem produtos de petr?leo, aproveitando as diferen?as de pre?o para maximizar os lucros. Em 2013, alguns funcion?rios recomendaram a interrup??o de transa??es com uma corretora em particular, que consistentemente vendia combust?vel para a Petrobras a pre?os acima do mercado, de acordo com as pessoas.

Mas os neg?cios continuaram a pedido de pelo menos tr?s gerentes da empresa, disseram as pessoas.

A pouco conhecida corretora de combust?vel Seaview Shipbroking Ltd foi posteriormente envolvida pelos promotores na Lava Jato, importante investiga??o que apurou esquemas bilion?rios de corrup??o na Petrobras.

Autoridades dizem que este cap?tulo da Lava Jato est? apenas come?ando.

Os promotores em dezembro alegaram em documentos p?blicos que quatro das maiores empresas de com?rcio de commodities do mundo --Vitol, Trafigura, Glencore e Mercuria Energy Group-- usaram intermedi?rios para utilizar pelo menos 31 milh?es de d?lares em propinas para corromper funcion?rios da Petrobras.

Em troca, os promotores dizem que esses funcion?rios teriam comprado petr?leo e derivados a pre?os inflacionados ou venderiam a pre?os com desconto, entregando lucros descomunais para as partes do outro lado desses neg?cios.

Os promotores alegam que tais transa??es eram rotineiras entre pelo menos 2011 e 2014 entre alguns funcion?rios da unidade de negocia??o da Petrobras, que tem escrit?rios espalhados pelo mundo.

A Reuters n?o conseguiu localizar informa??es de contatos ativos para o Seaview Shipbroking. Promotores brasileiros que investigam a corretora t?m se concentrado em Konstantinos Kotronakis, um ex-c?nsul grego no Rio de Janeiro. Eles alegam que a Kotronakis usou uma conta banc?ria da Seaview que ele controlava em Luxemburgo para administrar propinas relacionadas aos neg?cios de combust?vel da Petrobras. Kotronakis n?o foi acusado de um crime.

No Brasil, n?o ? incomum que os promotores aleguem os delitos cometidos por suspeitos em documentos publicamente dispon?veis --e citam evid?ncias nesse sentido-- sem cobrar imediatamente essas pessoas. At? agora, os promotores acusaram 14 pessoas, seis delas ex-funcion?rios da Petrobras, e disseram que mais acusa??es est?o por vir.

Um advogado da Kotronakis disse que desconhecia a auditoria da Petrobras e que seu cliente n?o era um dos propriet?rios da Seaview.

A Glencore, cujas subsidi?rias teriam canalizado subornos atrav?s da Kotronakis, de acordo com os promotores, recusou-se a comentar sobre suas supostas negocia??es com o empres?rio.

A Petrobras se apresenta como uma v?tima dos esquemas ilegais investigados pela Lava Jato.

Mas a petroleira n?o comentou sobre a investiga??o interna da sua mesa de opera??es de Cingapura. A empresa ressaltou ? Reuters declara??es anteriores, nas quais a companhia disse que est? empenhada em erradicar problemas, com progressos na melhoria de seus programas de conformidade desde que o esc?ndalo da Lava Jato teve in?cio, em 2014.

A Petrobras divulgou no m?s passado que a Comiss?o de Com?rcio de Futuros de Commodities dos EUA solicitou informa??es sobre aspectos de suas opera??es de trading relacionadas ? investiga??o brasileira. O Departamento Federal de Investiga??o dos EUA tamb?m se juntou ? investiga??o.

Mercuria, Vitol, Trafigura e Glencore disseram que est?o cooperando com a investiga??o brasileira. Todos enfatizaram seu compromisso com pr?ticas comerciais ?ticas. Mercuria negou irregularidades.

A Mercuria e a Trafigura n?o responderam a pedidos adicionais de coment?rios sobre esta mat?ria. Vitol se recusou a comentar.

SUSPEITA NA COMERCIALIZA??O

De acordo com um relat?rio interno da Petrobras de dezembro de 2012 e pessoas familiarizadas com o assunto, os gerentes da empresa examinaram 29 compras de combust?vel na mesa de opera??es de Cingapura de janeiro a novembro do mesmo ano.

Em 28 dessas transa??es, segundo o relat?rio, a Petrobras pagou acima das taxas vigentes para o chamado 'bunker', combust?vel utilizado por navios. Em dez desses casos, segundo o relat?rio, o pr?mio chegou a pelo menos 20 d?lares por tonelada m?trica.

Os documentos vistos pela Reuters n?o forneceram um valor acumulado que a Petrobras supostamente pagou em excesso. Mas, dados os grandes volumes de produtos envolvidos, os promotores disseram que at? os pequenos acr?scimos por unidade de produto poderiam gerar enormes lucros il?citos para os comerciantes ao longo do tempo.

De acordo com um documento n?o-p?blico da Pol?cia Federal de 2017 visto pela Reuters examinando irregularidades comerciais na Petrobras, bem como duas pessoas familiarizadas com o assunto, a Seaview estava entre as empresas que facilitavam negocia??es suspeitas em Cingapura.

Os promotores dizem que a Seaview funcionava essencialmente como uma intermedi?ria que ajudava as grandes empresas de comercializa??o de commodities a depenar a Petrobras. A Seaview executou negocia??es de combust?vel vantajosas em seu nome, e distribuiu subornos atrav?s de contas no exterior, disseram as autoridades.

Nos primeiros meses de 2013, surgiu na Petrobras um debate interno sobre a possibilidade de interromper neg?cios com Seaview, de acordo com os documentos e as pessoas. A Petrobras se recusou a faz?-lo, disseram eles, depois que alguns gerentes seniores argumentaram que a companhia de petr?leo poderia perder dinheiro limitando o n?mero de corretores com os quais interage.

Entre as pessoas que apoiaram a manuten??o do relacionamento estava Marco Antonio Costa Tritto, que era ent?o gerente das opera??es de 'bunker' da Petrobras, de acordo com as pessoas e documentos, datado de 2013. Ele agora ? gerente-geral de uma das subsidi?rias europeias da Petrobras, segundo documentos de registro do Reino Unido.

Costa Tritto recomendou ? Reuters que procurasse ? sede da Petrobras para pedidos de coment?rios. A Petrobras disse que n?o iria comentar.

Outro funcion?rio da Petrobras que apoiou a Seaview, Jorge de Oliveira Rodrigues, foi acusado pelo Minist?rio P?blico em dezembro por embolsar subornos e lavagem de dinheiro em conex?o com o esquema de comercializa??o de petr?leo.

Um advogado de Oliveira Rodrigues, que est? aposentado, disse que n?o comentaria.

Os promotores identificaram transa??es suspeitas envolvendo o Seaview at? fevereiro de 2014.

Ap?s duas auditorias adicionais em 2013, a Petrobras apontou pelo menos tr?s funcion?rios por conduta impr?pria, nenhum dos quais foi demitido, disseram as pessoas.

Entre eles, disseram as fontes, estava C?sar Joaquim Rodrigues da Silva. As autoridades brasileiras o prenderam em dezembro, acusando-o de lavagem de dinheiro e embolso de subornos em conex?o com o suposto esquema de propina.

Um advogado de Rodrigues da Silva se recusou a comentar.

Outro trader, Daniel da Silva Gomes Filho, tamb?m foi considerado culpado pela Petrobras por opera??es comerciais irregulares, segundo as pessoas. A auditoria da Petrobras de 2012 disse que um denunciante interno alegou que Gomes Filho fez acordos 'por debaixo do pano' com contrapartes em neg?cios de combust?vel. Ele n?o foi implicado pelos promotores.

Gomes Filho escreveu em um e-mail para a Reuters que ele foi suspenso por 29 dias pelo suposto incidente e foi submetido a tr?s investiga??es internas da Petrobras. Ele disse que viajou para a cidade de Curitiba, onde a investiga??o se baseia, para responder a perguntas de autoridades locais.

'Mesmo depois de seis anos, eles n?o foram capazes de me desacreditar', escreveu ele.

Gomes Filho afirmou que se aposentou da Petrobras em 2018.

(Reportagem adicional de Julia Payne em Londres)

Escrito por Redação

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