Real começa 2020 atrás de rivais emergentes por incertezas sobre fluxo e crescimento
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Por Jos? de Castro e Gabriel Ponte
S?O PAULO (Reuters) - O d?lar registrou na quarta-feira a primeira queda ante o real deste novo ano, mas ainda assim o desempenho da moeda brasileira seguiu aqu?m de pares emergentes, com o tradicional otimismo de fim de ano dando lugar ao receio de que o caminho para a divisa dom?stica continue tortuoso diante da mesma gama de incertezas presente ao longo do ano passado.
O real cai 1% ante o d?lar no acumulado de 2020, enquanto o peso colombiano sobe 1,2%, o peso mexicano e a lira turca avan?am 0,7% cada e o iuan chin?s offshore se valoriza 0,4%.
A taxa de c?mbio se depreciou em todas as quatro primeiras sess?es do ano no Brasil, mas na quarta finalmente teve alta, de 0,3%, depois de discurso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reduzir riscos de escalada adicional de tens?es com o Ir?.
Ainda assim, o real se valorizou menos que seus pares. O rand sul-africano ganhava 0,9% no fim da tarde de quarta, a lira turca subia 1,1%, e o peso mexicano somava 0,5%.
'O que fica claro ? que o real segue para tr?s em rela??o aos pares. Acredito que dois pontos principais ainda estejam pesando: o menor diferencial de juros e uma postura de mais cautela depois de anos de frustra??o com expectativas de crescimento', disse Daniel Tatsumi, gestor de moedas da ACE Capital.
O real depreciou 3,4% em 2019, depois de ter perdido 14,5% em 2018, ambos per?odos em que o juro b?sico brasileiro (a Selic) atingiu novas m?nimas recordes.
Os sucessivos cortes nos juros reduziram a diferen?a entre as taxas pagas pelos t?tulos brasileiros e os pap?is norte-americanos --considerados os mais seguros do mundo. Assim, o investidor estrangeiro teve menos disposi??o para aplicar na renda fixa brasileira, o que prejudicou o fluxo cambial, diminuindo a oferta de d?lar no pa?s.
Dados do Banco Central mostraram na quarta-feira que o pa?s teve sa?da l?quida recorde de mais de 44 bilh?es de d?lares em 2019.
Enquanto a Selic est? em 4,50% ao ano, no M?xico --concorrente direto do Brasil por investimento estrangeiro-- a taxa b?sica de juros est? em 7,25%. Na Turquia, a taxa repo (a refer?ncia por l?) est? em 12%, enquanto na ?frica do Sul se encontra em 6,50%.
A d?vida sobre o crescimento tamb?m tem pesado sobre o c?mbio, assim como em 2019. O ano de 2020 come?ou com leituras de ?ndices de gerentes de compras do Brasil indicando desacelera??o da atividade nos setores manufatureiro e de servi?os no fim de 2018, um balde de ?gua fria em expectativas de uma retomada mais s?lida e sequencial do ritmo da atividade.
Isso se soma a preocupa??es de que a economia frustre novamente expectativas, que atualmente apontam para um crescimento de 2,30% em 2020.
No come?o de 2019, a perspectiva era que o PIB cresceria 2,53% no ano passado, mas a estimativa foi rebaixada para 1,17% ao fim do ano, conforme a pesquisa Focus do Banco Central. No in?cio de 2018, o progn?stico indicava expans?o de 2,69% naquele ano, o dobro do crescimento realizado, de 1,3%.
Em tese, um cen?rio de crescimento mais forte tende a atrair investimentos estrangeiros, com maior oferta de d?lares.
Em relat?rio desta semana, o Goldman Sachs excluiu o real de uma lista de destaque de moedas que mais poderiam se beneficiar da recupera??o do crescimento de mercados emergentes. Estrategistas do banco preferem peso mexicano, rublo russo e rupia indon?sia.
Em outro fator contra a moeda brasileira, os profissionais calcularam que o desvio da taxa de c?mbio em rela??o ao seu padr?o hist?rico --uma medida de qu?o excessivamente fraca ou forte uma moeda estaria-- ficou praticamente zerado no fim do ano passado. Ou seja, o real estaria neutro, sem argumentos relevantes para mais valoriza??o depois de ter ganhado 5,7% em dezembro.
Em contrapartida, peso chileno, iuan chin?s, rand sul-africano, ringgit malaio e as moedas de M?xico, Pol?nia, Col?mbia e Peru ainda teriam mais espa?o para aprecia??o.
INVESTIMENTO ESTRANGEIRO E VOLATILIDADE
Ainda h? d?vidas sobre uma volta do fluxo de investidores internacionais no curto prazo.
Pablo Spyer, diretor de opera??es da Mirae Asset, acredita que o real vai se recuperar no curto prazo, mas que essa melhora ainda n?o ser? pelas m?os de estrangeiros. 'Os leil?es de privatiza??o das estatais ainda n?o ocorreram, e, portanto, n?o se vislumbra, no curto prazo, uma significativa entrada de estrangeiros no Pa?s, mas sim no m?dio prazo', explicou.
Segundo ele, o real continua vulner?vel ? economia brasileira como anteriormente, apesar do n?vel de reservas internacionais, em cerca de 357,5 bilh?es de d?lares de acordo com os mais recentes dados do Banco Central, de dezembro passado.
Para Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, frente a uma moeda ainda vulner?vel, a agenda econ?mica do governo ser? acompanhada de perto, caso o Congresso volte a se mostrar aliado do Planalto no andamento das propostas. Ele tem como cen?rio-base o d?lar se estabilizando na casa de 4 reais.
O apetite do investidor de fora pode ser afetado ainda pelo aumento do vaiv?m do d?lar no mercado externo. O Credit Suisse chama aten??o para a volatilidade impl?cita do d?lar no mundo estar em patamares baixos ou pr?ximos de m?nimas em v?rios anos, a despeito do aumento do risco geopol?tico.
'Em nossa avalia??o, dada a falta de claro impacto direcional para muitos pares de moedas, usar produtos de volatilidade de moedas... para bloquear a exposi??o a longo prazo a um aumento na volatilidade macro parece sensato', disseram estrategistas do banco su??o em nota a clientes na quarta-feira.
A volatilidade impl?cita de op??es de d?lar/real para tr?s meses estava no fim da tarde de quarta em 10,4% ao ano, bem acima dos 9,6% do fim do ano passado. As medidas para outras moedas emergentes tamb?m subiram, embora a do real siga entre as mais altas.
(Edi??o de Isabel Versiani)
Escrito por Reuters
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