Rompimento de barragem da Vale em MG deixa ao menos 7 mortos e 150 desaparecidos
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Por Marta Nogueira e Alberto Alerigi
RIO DE JANEIRO/S?O PAULO (Reuters) - O rompimento de barragem da mina de ferro Feij?o, da Vale, em Brumadinho (MG), deixou pelo menos sete mortos, v?rios feridos e cerca de 150 pessoas desaparecidas nesta sexta-feira, ap?s uma avalanche de lama de rejeitos de minera??o atingir parte da comunidade da Vila Ferteco e a ?rea administrativa da pr?pria companhia na regi?o.
De acordo com o governo de Minas Gerais, nove pessoas foram retiradas com vida da lama e cerca de 100 pessoas ilhadas foram resgatadas com ajuda de helic?pteros.
Segundo dados da Vale repassados ao governo mineiro, havia 427 pessoas no local, sendo que 279 foram resgatadas vivas. A nota do governo diz que, no in?cio da noite, 150 pessoas com algum v?nculo com a empresa estavam desaparecidas --anteriormente, os bombeiros falaram em cerca de 200.
'No momento, a grande medida ? ver sobreviventes, e informar ?s fam?lias dos atingidos', disse o governador de Minas Gerais, Romeu Zema.
Cerca de 100 bombeiros trabalharam no resgate de v?timas durante o dia, contingente que ser? dobrado a partir desta madrugada, disse o governo mineiro sobre as atividades de socorro, que tamb?m contam com o apoio de dezenas de helic?pteros.
Um campo de futebol est? sendo utilizado como ?rea de avalia??o e triagem das v?timas para atendimento m?dico.
'Estamos falando de uma quantidade prov?vel grande de vitimas, n?o sabemos quantas s?o, mas sabemos que ser? um n?mero grande', disse o presidente da Vale, Fabio Schvartsman. Ele afirmou no in?cio da noite que a companhia conseguiu contatar cerca de 100 funcion?rios pr?prios ou terceirizados que foram atingidos pelo desabamento.
A barragem estava em processo de descomissionamento e j? n?o vinha recebendo rejeitos de minera??o nos ?ltimos tempos, segundo Schvartsman.
O executivo, que disse estar 'dilacerado' pelo acidente, acrescentou que a companhia foi surpreendida com a trag?dia, uma vez que testes recentes na barragem demonstraram normalidade da estrutura. A trag?dia ocorreu mais de tr?s anos depois da barragem Fund?o, da Samarco, joint venture da Vale e da BHP Billiton, ter se rompido em Mariana (MG), matando 19 pessoas e causando o pior desastre ambiental do Brasil.
Segundo informa??es da Vale, o Complexo de Paraopeba, onde est? a mina de Feij?o, produziu em 2017 cerca de 26 milh?es de toneladas de min?rio ferro, representando 7 por cento da produ??o da Vale naquele ano. Al?m de Feij?o, o complexo tem outras tr?s minas, uma jazida e duas usinas de beneficiamento.
Schvartsman disse que uma ?nica barragem do complexo se rompeu. Segundo ele, 'uma segunda barragem transbordou, porque parte do vazamento se dirigiu a essa segunda barragem e houve um transbordamento, mas ela n?o rompeu'. O Minist?rio de Meio Ambiente, por?m, afirmou mais cedo que tr?s barragens do complexo se romperam.
Comparando com o rompimento de barragem de Fund?o, o presidente da Vale disse que 'possivelmente o dano ambiental dessa vez ser? menor'.
'Como era uma barragem inativa, o material dentro da barragem j? era razoavelmente seco e consequentemente n?o tem esse poder de se deslocar por longas regi?es. A parte ambiental deve ser muito menor e a trag?dia humana terr?vel.'
Segundo a Vale, a barragem em Brumadinho continha 12 milh?es de metros c?bicos de rejeitos, ante 50 milh?es que estavam depositados na barragem de Mariana, de acordo com o Ibama.
As a??es da mineradora listadas na bolsa de Nova York fecharam em queda de 8 por cento nesta sexta-feira. No Brasil, a bolsa de valores n?o operou nesta sexta-feira em fun??o de feriado municipal em S?o Paulo.
LAMA
Imagens a?reas enviadas pelo Corpo de Bombeiros mostraram lama espalhada por uma grande ?rea em meio ? vegeta??o. A altura da lama chegava ao telhado de casas e outras constru??es.
A Prefeitura de Brumadinho pediu que a popula??o mantenha a dist?ncia do leito do Rio Paraopeba, um importante afluente do rio S?o Francisco e um dos que abastecem a regi?o da Grande Belo Horizonte com ?gua.
Apesar do desastre, a companhia estadual de ?gua e saneamento de Minas Gerais, Copasa, afirmou que o abastecimento de ?gua da regi?o metropolitana de Belo Horizonte 'n?o ser? prejudicado' com o rompimento da barragem da Vale.
A empresa informou ainda que o abastecimento da regi?o atendida pelo sistema formado pelo rio Paraopeba 'passar? a ser realizado pelas represas do Rio Manso, Serra Azul, V?rzea das Flores e pela capta??o a fio d'?gua do Rio das Velhas'.
Segundo a Ag?ncia Nacional de ?guas (ANA), a lama dever? se acumular na hidrel?trica Retiro Baixo, a 220 quil?metros do local do rompimento, 'e possibilitar? amortecimento da onda de rejeito. Estima-se que essa onda atingir? a usina em cerca de dois dias'.
O Instituto Inhotim, um dos maiores centros de arte ao ar livre da Am?rica Latina e localizado em Brumadinho, foi esvaziado por seguran?a por causa do rompimento, informou a entidade.
O presidente Jair Bolsonaro, que dever? visitar a ?rea atingida pelo rompimento no s?bado, lamentou o ocorrido.
'Determinei o deslocamento dos ministros do Desenvolvimento Regional e Minas e Energia, bem como nosso Secretario Nacional de Defesa Civil para a regi?o', afirmou ele, acrescentando que o ministro de Meio Ambiente tamb?m foi para o local.
Bolsonaro foi informado sobre o desastre quando estava em reuni?o com o ministro da Defesa, general Fernando de Azevedo e Silva, disse uma fonte do Pal?cio do Planalto.
LICENCIAMENTO AMBIENTAL
O novo rompimento de uma barragem em Minas Gerais reacende quest?es sobre a seguran?a de tais estruturas.
Segundo relat?rio da Ag?ncia Nacional de ?guas divulgado no final do ano passado, o n?mero de barragens apontadas como mais vulner?veis subiu de 25 em 2016 para 45 em 2017. No relat?rio, aparecem uma s?rie de barragens em Brumadinho, incluindo da Vale, com riscos de danos potenciais associados classificados como 'alto'.
Conforme o relat?rio, a maioria dos casos citados apresenta problemas de baixo n?vel de conserva??o. Das 45 barragens, 25 pertencem a ?rg?os e entidades p?blicas.
'Esse novo acidente mostra que o governo n?o pode colocar a quest?o ambiental em segundo plano, como vinha se pretendendo', afirmou a advogada Let?cia Yumi Marques, consultora de Direito Ambiental do Peixoto & Cury Advogados.
Publicamente, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, j? afirmou que o governo estuda acelerar e simplificar o modelo de licenciamento ambiental. Para Let?cia, o rompimento da barragem deve dificultar esse afrouxamento, uma vez que a trag?dia em Brumadinho, ocorrida poucos anos ap?s o desastre em Mariana, ressalta fragilidades que n?o foram sanadas mesmo considerando o atual arcabou?o regulat?rio.
Uma eventual flexibiliza??o rumo ao modelo de licenciamento t?cito -- em que os empreendimentos ganham sinal verde caso os ?rg?os ambientais n?o emitam a licen?a num determinado prazo -- poderia ser ainda mais arriscado, pois implica maior inseguran?a jur?dica e ambiental, defendeu a advogada.
'Um acidente no mesmo Estado, nas mesmas circunst?ncias, a gente est? mostrando que n?o aprendeu a li??o', disse Let?cia, para quem a repara??o integral do meio ambiente poder? ser exigida de quem obteve lucro com a atividade exercida em Brumadinho, independentemente das causas do acidente apontarem para omiss?o do Estado ou falha do empreendedor.
(Com reportagem adicional de Ricardo Brito, Anthony Boadle e Marcela Ayres, em Bras?lia; e Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro)
Escrito por Redação
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