Safra de soja do Brasil 19/20 deve crescer 6,6% com aposta em clima melhor, aponta pesquisa

Por Roberto Samora

S?O PAULO (Reuters) - A produ??o de soja do Brasil na temporada 2019/20 dever? ser recorde, com aumento de 6,6%, ? medida que especialistas apostam em uma recupera??o da produtividade m?dia ap?s uma safra menor em 2018/19, apesar de um tempo mais seco em setembro, quando produtores em geral d?o a largada no plantio.

De acordo com pesquisa da Reuters com 12 consultorias e institui??es, a safra de soja do Brasil 19/20 foi estimada em recorde de 122,6 milh?es de toneladas, em m?dia, praticamente est?vel ante levantamento semelhante realizado no in?cio de agosto, com alguns participantes mantendo suas previs?es mensais.

Embora as proje??es variem de 119,70 milh?es a 125,70 milh?es de toneladas, todas elas superam com folga as 115 milh?es de toneladas da estimativa oficial do governo para 2018/19, ficando tamb?m acima da m?xima hist?rica obtida em 2017/18 (119,3 milh?es de toneladas).

A recupera??o das produtividades em 2019/20 seria o principal fator de aumento da safra, j? que a pesquisa tamb?m aponta crescimento m?dio de 2,3% na ?rea plantada, para 36,70 milh?es de hectares, em linha com o visto no ciclo anterior, mas bem abaixo da m?dia da ?ltima d?cada, de aumento de mais de 5%, com o setor cauteloso com custos com frete e a possibilidade do fim da guerra comercial EUA-China que tanto beneficiou os brasileiros em 2018/19.

'Deu um veranico em dezembro do ano passado e pegou uma parte da ?rea de soja do Brasil, o que pelas minhas contas fez com o Brasil deixasse de colher pelo menos 10 milh?es de toneladas', disse o chefe de gr?os da consultoria Datagro, Fl?vio Fran?a Jr..

Assim, a Datagro, que tem uma das maiores proje??es da pesquisa, em 125,30 milh?es de toneladas, avalia que o Brasil poder? voltar a registrar um recorde apesar de previs?es de tempo mais seco neste in?cio de plantio, que atrasar? o come?o dos trabalhos na compara??o com 2018/19, quando o ritmo inicial foi fora da curva.

Com o plantio em velocidade hist?rica na temporada passada, o Mato Grosso, maior produtor brasileiro, registrou 4,3% de ?rea plantada at? 28 de setembro em 2018. Mas neste ano essa situa??o n?o deve se repetir, segundo especialistas, pois as chuvas s? devem voltar no final do m?s. Situa??o semelhante ? vista no Paran?, com a maior parte das regi?es registrando d?ficit de umidade at? o final do m?s, segundo dados da Refinitiv.

Entretanto, isso n?o est? sendo visto como um problema para a soja por ora.

Segundo Fran?a Jr., a l?gica deste ano ? de que o plantio n?o seja t?o r?pido, voltando a ter um ritmo dentro da m?dia, e que, quando as chuvas retornarem, elas sejam mais regulares, possivelmente garantindo boas produtividades. Contudo, ressaltou ele, anos de clima neutro costumam trazer mais nervosismo ao mercado, j? que ? mais dif?cil prever uma tend?ncia de chuvas.

'Tivemos La Ni?a fraca (em 2016/17), depois clima neutro (em 2017/18), e foi a nossa melhor safra, e depois El Ni?o fraco (2018/19). A rigor, estamos indo para a quarta safra seguida em clima dentro da neutralidade...', comentou.

Para a consultoria Arc Mercosul, o atraso da chegada das chuvas dever? acarretar problemas pouco relevantes para a soja, 'uma vez que a janela ideal de plantio se estende at? o in?cio de dezembro para a maioria dos Estados centrais do pa?s'.

Se a safra tiver chuvas razo?veis, ? muito prov?vel que o Brasil, maior exportador global de soja, supere com folga os Estados Unidos tamb?m na produ??o, j? que os norte-americanos est?o com colheita 2019/20 estimada em 98,87 milh?es de toneladas, ap?s problemas no plantio.

Uma das consultorias que elevou sua estimativa ante a previs?o de agosto, a Cogo, citou uma reavalia??o do progn?stico clim?tico como garantia de melhores produtividades.

'Chuvas adequadas no Matopiba (Maranh?o, Tocantins, Piau? e Bahia), baixo risco de secas extremas no Sul e encerramento do El Ni?o', disse Carlos Cogo, ao explicar o aumento de mais de 2 milh?es de toneladas em sua previs?o, para 125,70 milh?es de toneladas, a maior obtida pela pesquisa da Reuters.

GUERRA COMERCIAL E PESTE

Enquanto o setor de soja no Brasil torce para que as melhores proje??es clim?ticas se confirmem, as incertezas geradas pela guerra comercial China-EUA e a menor demanda chinesa pelo devastador impacto da peste su?na africana no rebanho asi?tico mant?m o produtor na defensiva para maiores avan?os de ?rea plantada.

'H? receio sobre aumentar porque, se os EUA fizerem acordo com a China, poder? sobrar alguma soja no Brasil. Por outro lado, se n?o fizer, tudo o que se plantar ser? pouco, ? uma loteria...', disse o analista Luiz Pacheco, da T&F Agron?mica.

Enquanto isso, a China d? sinais que pode atenuar as tens?es da guerra comercial antes de uma nova rodada de negocia??es para encerrar as disputas, ao excluir alguns produtos agr?colas dos Estados Unidos, como a soja, de tarifas adicionais, informou nesta sexta-feira a ag?ncia oficial Xinhua.

'A expectativa de margens de rentabilidade apertadas em 2019/20, incerteza no cen?rio internacional com as negocia??es sino-americanas ainda indefinidas e perspectiva de queda na demanda mundial, puxada pelo surto de peste su?na africana na China, desestimulam o produtor brasileiro a aumentar significativamente a ?rea a ser plantada', completou Daniely Santos, da consultoria C?leres.

O analista s?nior de Agroneg?cio do Ita? BBA, Guilherme Bellotti, explicou que esse ambiente de incertezas com guerra comercial EUA-China, al?m da tabela do pre?o m?nimo do frete rodovi?rio, traz dificuldade 'para quem oferta pre?o futuro ao produtor'.

'Dificulta a tomada de posi??o da trading... o que fica na m?o do produtor, que ele consegue gerenciar, ? o c?mbio, que tem apresentado oportunidade para garantir bons neg?cios', afirmou ele, em refer?ncia ao d?lar, que apesar de queda recente, est? acima de 4 reais.