Presidente da OAB irá ao STF após Bolsonaro dizer que pode contar como seu pai desapareceu
Publicada em
Atualizada em
BRAS?LIA (Reuters) - O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, ir? ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que o presidente Jair Bolsonaro esclare?a declara??es dadas mais cedo nesta segunda-feira de que pode contar a Santa Cruz como seu pai desapareceu durante a ditadura militar na d?cada de 1970.
'O presidente da OAB vai interpelar o presidente da Rep?blica no STF para que o presidente esclare?a as informa??es que diz ter sobre a morte de seu pai, reconhecido como desaparecido. As circunst?ncias do seu desaparecimento nunca foram esclarecidas pelo Estado', afirmou a OAB em nota.
Mais cedo, na sa?da do Pal?cio da Alvorada, Bolsonaro afirmou que o pai do presidente da OAB, Fernando Augusto de Santa Cruz, era membro do grupo A??o Popular, classificado pelo presidente da Rep?blica 'sanguin?rio', e que poderia contar a ele como o pai desapareceu.
Irritado com a OAB, que tem questionado a??es propostas pelo governo, Bolsonaro reclamou que a entidade teria impedido a quebra do sigilo telef?nico do advogado de Ad?lio Bispo, que o atacou com uma faca durante a campanha eleitoral do ano passado. A OAB e a pr?pria Pol?cia Federal negaram que tenha sido pedida uma liminar pela OAB para impedir o acesso.
'Por que a OAB impediu que a Pol?cia Federal entrasse no telefone de uma dos car?ssimos advogados? Qual a inten??o da OAB? Quem ? essa OAB? Um dia se o presidente da OAB quiser saber como ? que o pai dele desapareceu no per?odo militar, conto para ele', disse Bolsonaro.
'Ele n?o vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele. N?o ? minha vers?o. ? que a minha viv?ncia me fez chegar nas conclus?es naquele momento. O pai dele integrou a A??o Popular, o grupo mais sanguin?rio e violento da guerrilha l? de Pernambuco, e veio desaparecer no Rio de Janeiro', acrescentou.
Ap?s as declara??es do presidente, Santa Cruz as rebateu no Twitter e disse que os coment?rios de Bolsonaro s?o 'inqualific?veis' e que demonstram 'mais uma vez tra?os de car?ter graves em um governante: a crueldade e a falta de empatia'.
'? de se estranhar tal comportamento em um homem que se diz crist?o', disse o presidente da OAB. 'Lamentavelmente, temos um presidente que trata a perda de um pai como se fosse assunto corriqueiro --e debocha do assassinato de um jovem aos 26 anos.'
'A respeito da defesa das prerrogativas da advocacia brasileira, nossa principal miss?o, asseguro que permaneceremos irredut?veis na garantia do sigilo da comunica??o entre advogado e cliente. Garantia que ? do cidad?o, e n?o do advogado', disse.
Mais um tarde, em uma transmiss?o ao vivo em uma rede social enquanto cortava o cabelo, Bolsonaro disse que, a informa??o que teve ? ?poca do desaparecimento do pai do presidente da OAB foi de que Fernando Santa Cruz foi assassinado por outros integrantes da A??o Popular. Bolsonaro tinha 18 anos quando o pai do presidente da OAB desapareceu em fevereiro de 1974.
'De onde eu obtive essa informa??o? Com quem eu conversava na ?poca, ora bolas. Eu conversava com muita gente', disse Bolsonaro.
'O pessoal da AP no Rio de Janeiro ficou estupefato. 'Como pode vir esse cara vir do Recife aqui se encontrar com a gente aqui?' O contato n?o seria com ele, seria com a c?pula da A??o Popular no Recife. E eles resolveram sumir com o pai do Santa Cruz. Essa ? a informa??o que eu tive na ?poca.'
As declara??es de Bolsonaro v?o contra as informa??es da Comiss?o Nacional da Verdade, que afirma que Fernando Santa Cruz Oliveira foi visto pela ?ltima vez em fevereiro de 1974, quando foi preso no Rio de Janeiro por agentes do DOI-Codi.
Em buscas por ele, a fam?lia recebeu diversas negativas de que tivesse sido preso, mas em suas investiga??es a Comiss?o encontrou um relat?rio do Minist?rio da Aeron?utica da d?cada de 1990 em que se informava ao Minist?rio da Justi?a que ele havia sido preso em 23 de fevereiro de 1974 e era considerado desaparecido desde ent?o. Ele tinha 26 anos.
O pai do presidente da OAB era de fato parte da A??o Popular (AP), de acordo com a Comiss?o Nacional da Verdade, mas n?o h? ind?cios de que tenha agido em Pernambuco. Ele morava em S?o Paulo e passava alguns dias na casa dos pais, no Rio de Janeiro, quando houve a pris?o.
Apenas em 2014, com o relat?rio da Comiss?o da Verdade, Fernando Oliveira foi considerado oficialmente morto.
A Anistia Internacional criticou as declara??es do presidente e cobrou que o pa?s assuma suas responsabilidades com as fam?lias das v?timas.
'? terr?vel que o filho de um desaparecido pelo Regime Militar tenha que ouvir do presidente do Brasil, que deveria ser o defensor m?ximo do respeito e da Justi?a no pa?s, declara??es t?o duras. O Brasil deve assumir sua responsabilidade, e adotar todas as medidas necess?rias para que casos como esses sejam levados ? Justi?a', disse a diretora-executiva da Anistia Internacional, Jurema Werneck.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu, em Bras?lia, e Eduardo Sim?es, em S?o Paulo)
Escrito por Redação
SALA DE BATE PAPO