Capa do Álbum: Antena 1
A Rádio Online mais ouvida do Brasil
Antena 1
Ícone seta para a esquerda Veja todas as Notícias.

EXCLUSIVO-Há 10 anos, Vale avaliou mudanças em barragens que poderiam ter evitado desastre

Placeholder - loading - Imagem da noticia "EXCLUSIVO-Há 10 anos, Vale avaliou mudanças em barragens que poderiam ter evitado desastre"

Publicada em  

Atualizada em  

Por Marta Nogueira e Ernest Scheyder

RIO DE JANEIRO/HOUSTON (Reuters) - A mineradora brasileira Vale demonstrou preocupa??es sobre suas barragens de rejeitos em 2009, mas n?o implementou v?rias medidas avaliadas que poderiam ter evitado ou diminu?do os danos do desastre fatal da semana passada, de acordo com uma apresenta??o corporativa vista pela Reuters.

Uma barragem usada pela companhia para armazenar os restos lamacentos do processo de beneficiamento da mina de ferro C?rrego do Feij?o, em Brumadinho (MG), entrou em colapso na sexta-feira, matando pelo menos 84 pessoas e deixando centenas de desaparecidos, em um dos maiores acidentes industriais do Brasil.

A estrutura continha cerca de 12 milh?es de metros c?bicos e gerou uma avalanche de lama que atingiu refeit?rio e ?rea administrativa da Vale, assim como comunidades e rios da regi?o.

O desastre de Brumadinho ocorreu pouco mais de tr?s anos depois de uma trag?dia similar em outra mina envolvendo a Vale, s?cia da BHP Billiton na Samarco, causando uma perda de mais de 70 bilh?es de reais em valor de mercado da empresa apenas na segunda-feira.

Mas uma d?cada atr?s, a maior produtora global de min?rio de ferro estava considerando maneiras de usar menos barragens de rejeitos, incluindo usos alternativos para essa lama, de acordo com uma apresenta??o de 73 p?ginas.

O documento apontou para o aumento do volume de rejeitos produzidos nas minas da empresa.

O relat?rio sugeriu que a Vale fizesse materiais de constru??o a partir de rejeitos, incluindo tijolos, um passo que daria ? empresa uma outra fonte de receita e diminuiria o volume que precisa ser armazenado usando barragens.

O relat?rio de 2009 da Vale recomendou que a companhia realizasse um projeto chamado 'Barragens Zero', que envolveria a filtragem de rejeitos, recupera??o adicional de min?rio de ferro nos rejeitos, entre outras medidas.

N?o se sabe se o relat?rio atingiu os n?veis mais altos da administra??o da Vale nem por que n?o foi implementado.

Carolina de Moura, uma participante do Movimento dos Atingidos pela Vale, moradora de Brumadinho e acionista da Vale, disse ? Reuters que cobrou, em abril do ano passado, em uma assembleia de acionistas da empresa, da diretoria da Vale, onde estava o projeto, ressaltando que Feij?o estava inserido dele.

'S? que ela n?o tratou (dos rejeitos), porque o pre?o min?rio de ferro caiu, a empresa implementou uma pol?tica de redu??o de custos, deve ter socado as barragens de rejeitos mais ainda e a? o que deu?, C?rrego do Feij?o estourou', disse Moura.

O autor do relat?rio, Paulo Fran?a, deixou a Vale um ano depois de apresent?-lo e agora trabalha como consultor do setor. Procurado pela Reuters, ele n?o comentou.

A Vale tamb?m informou que n?o iria comentar.

Mais tarde nesta ter?a-feira, a Vale anunciou investimentos de 5 bilh?es de reais para acabar com as barragens a montante, dizendo que o processo tamb?m vai exigir paralisa??o da produ??o em um volume equivalente a 40 milh?es de toneladas ao ano.

'ESTRUTURAS INERENTEMENTE PERIGOSAS'

As instala??es da Vale em Brumadinho foram constru?das em 1976 usando o tipo mais barato e menos est?vel de projeto de barragens de rejeitos, uma estrutura com design comumente utilizado na minera??o conhecido como a montante.

O design a montante custa cerca de metade do pre?o de outras barragens, mas apresenta maior risco de seguran?a, porque suas paredes s?o constru?das sobre uma base de res?duos, em vez de em material externo ou em terra firme.

O vizinho Chile, mais propenso a terremotos, pro?be o design. O Brasil n?o ? t?o propenso a terremotos, mas at? mesmo pequenas atividades s?smicas mostraram afetar as barragens de rejeitos a montante.

Como esses tipos de estruturas s?o alagados, eles ficam facilmente suscet?veis a rachaduras e outros danos que podem causar rompimentos, como o que ocorreu na semana passada em Brumadinho.

'Uma barragem de rejeitos pode parecer segura, mas ainda mant?m muita umidade por tr?s dela', disse Dermot Ross-Brown, engenheiro da ind?stria de minera??o que leciona na Escola de Minas do Colorado, nos EUA. 'S?o estruturas inerentemente perigosas.'

A causa do desastre permanecem desconhecida. Essa mina da Vale n?o recebe rejeitos h? cerca de dois anos e meio e estava em processo de descomissionamento, um passo que deveria ter diminu?do o risco, disseram engenheiros.

'? realmente intrigante para mim que isso tenha acontecido quando a barragem estava fechando', disse Cameron Scott, da SRK Consulting, uma empresa de engenharia de minera??o. 'Este desastre tornar? o meu futuro mais dif?cil.'

A barragem passou por uma inspe??o em setembro de 2018 da empresa alem? T?v S?d, e o diretor-presidente da Vale, Fabio Schvartsman, disse que monitores mostraram que a barragem estava est?vel em 10 de janeiro.

Tr?s funcion?rios da Vale e dois engenheiros da T?v S?d foram presos nesta ter?a-feira, em opera??o para apurar homic?dio, falsidade ideol?gica e crimes ambientais na trag?dia.

RISCOS

Abalados e na espera de informa??es sobre centenas de colegas desaparecidos no desastre, funcion?rios da Vale est?o se mobilizando para exigir mudan?as no modelo de produ??o da empresa, incluindo a utiliza??o de tecnologias j? existentes para eliminar rejeitos da minera??o.

Analistas e engenheiros acreditam que o desastre de Brumadinho dever? for?ar a ind?stria a parar de armazenar rejeitos ?midos e, em vez disso, seguir? em dire??o ao processo mais caro, por?m mais seguro, de armazenar rejeitos secos.

Esse processo exige a secagem dos rejeitos e o armazenamento no local, reduzindo o risco de colapso da barragem. A abordagem est? se tornando mais popular no Canad? e em outros pa?ses com regulamenta??es de minera??o mais rigorosas.

'A ind?stria ainda n?o compreende totalmente o risco que est? assumindo com esse tipo de barragens de rejeitos ?midos', disse Matt Fuller, da Tierra Group International, uma empresa de consultoria de engenharia de rejeitos.????Representantes governo brasileiro j? afirmaram que tomar?o medidas para tornar a atividade de minera??o mais segura, olhando inclusive a cria??o de uma legisla??o que exija minera??o a seco e force mineradoras a eliminar barragens de rejeitos quando elas estiverem localizadas acima das comunidades.

O Brasil ainda est? se recuperando da trag?dia de novembro de 2015, quando uma barragem maior, pertencente ? Samarco despejou uma montanha de rejeitos, deixando 19 mortos e centenas de desabrigados, poluindo o rio Doce, no que foi considerado o maior desastre ambiental da hist?ria do Brasil.

No caso de Brumadinho, a barragem estava constru?da em cima de estruturas da pr?pria empresa e inundou pr?dio administrativo e refeit?rio da companhia, com centenas de trabalhadores no hor?rio de almo?o.

O sindicato que representa trabalhadores de minera??o de Brumadinho afirmou nesta ter?a-feira que pediu ? Vale 'h? pelo menos dois anos' mudan?a de local das instala??es administrativas e do refeit?rio atingidos pela avalanche de lama do rompimento da barragem.

'Em reuni?o, representantes da Vale disseram que existia um projeto pronto para a transfer?ncia, o que n?o ocorreu a tempo de evitar essa trag?dia', acrescentou a nota, assinada pelo Sindicato Metabase de Brumadinho e Federa??o dos Trabalhadores nas Ind?strias Extrativas de Minas Gerais.

A Vale n?o comentou o assunto imediatamente.

(Reportagem adicional de Barbara Lewis em Londres, Christian Plumb em Santiago, Gram Slattery em Brumadinho e Maria Carolina Marcello em Bras?lia)

Escrito por Redação

Últimas Notícias

  1. Home
  2. noticias
  3. ha 10 anos vale avaliou …

Este site usa cookies para garantir que você tenha a melhor experiência.