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WIDER IMAGE - Mães de bebês afetados por Zika ainda lutam contra dificuldades financeiras e desamparo

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(Veja vers?o multim?dia em https://reut.rs/2RRMEWN)

Por Ueslei Marcelino

RECIFE (Reuters) - Quase tr?s anos depois que um surto de Zika no Brasil provocou milhares de casos de microcefalia e outras defici?ncias cong?nitas em rec?m-nascidos, a Reuters reencontrou m?es e filhos afetados pelo v?rus.

Desde ent?o, o primeiro v?rus transmitido por mosquito de que se tem conhecimento que afeta fetos em desenvolvimento, desapareceu das manchetes, mas autoridades de sa?de global temem que o v?rus possa atingir novas popula??es.

Em Angola, dezenas de casos de beb?s nascidos com microcefalia desde 2017 parecem estar ligados ao mesmo tipo de Zika que atingiu a Am?rica Latina.

No Nordeste, conversamos com cerca de 30 m?es que contra?ram o v?rus da Zika durante a gravidez. A maioria foi abandonada pelos maridos e hoje precisa cuidar das crian?as sozinha.

Muitas se adaptaram em grande parte ao choque inicial de descobrir a defici?ncia dos filhos, trocando sonhos de suas pr?prias carreiras pela realidade de cuidar 24 horas por dia de uma crian?a que pode nunca andar ou falar.

Muitas lutam para sobreviver com um aux?lio mensal de apenas 954 reais, que deve cobrir gastos com moradia, alimenta??o, medicamentos e transporte para as frequentes consultas m?dicas.

Algumas encontram apoio entre m?es cujos filhos passam as mesmas dificuldades. Outras expressaram gratid?o por familiares ou amigos que ajudam na luta di?ria. Muitas confessaram passar por momentos de desespero e depress?o, e algumas chegaram a considerar suic?dio. Mas, todas compartilham um forte amor por seus filhos e a esperan?a de uma vida melhor.

Quatro delas nos revelaram um pouco de sua rotina em casas simples nas redondezas de Recife e Olinda.

APOIO MORAL

Gabriela Alves de Azevedo, de 22 anos, vive nas redondezas de Olinda com sua filha, Ana Sophia, agora com 3 anos de idade.

Ana Sophia tem microcefalia, uma rara defici?ncia cong?nita marcada pelo tamanho reduzido da cabe?a devido a uma m?-forma??o do c?rebro durante a gesta??o. Antes da Zika, defici?ncias cong?nitas do tipo nunca haviam sido ligadas a doen?as transmitidas por mosquito. Al?m dos problemas de desenvolvimento, Ana Sophia tem dificuldades para ver, ouvir e engolir.

Gabriela planejava terminar o ensino m?dio e estudar fisioterapia. Agora, passa os dias cuidando da filha. Seu marido a deixou pouco depois do nascimento de Ana Sophia. Ele n?o conseguiu aceitar a condi??o da crian?a, disse Gabriela, e n?o paga a pens?o aliment?cia.

'Gra?as a Deus minha fam?lia me consolou, porque eu j? estava entrando em depress?o', disse. 'Se n?o fosse minha fam?lia eu j? estaria louca.'

Hoje, alguns parentes ajudam com apoio moral, e a av? paterna de Ana Sophia ajuda com seu cuidado di?rio.

Gabriela faz exerc?cios de fisioterapia com a filha em casa e acredita que a sa?de dela melhorou.

'Hoje em dia eu a trato como uma crian?a normal. Eu vejo que ela tem a defici?ncia dela... mas finjo que ela n?o tem nada na verdade', disse.

'NUNCA DESISTAM'

Gleyse Kelly da Silva, de 28 anos, conta com a ajuda de seu marido e m?e para cuidar de Maria Giovanna, a 'Gigi', de 3 anos. Mas, o peso ainda ? grande, e ela foi obrigada a deixar seu emprego para se dedicar ? filha.

Depois que Gigi nasceu, houve muitas consultas com equipes m?dicas para tentar entender as implica??es da Zika. Hoje, essas consultas s?o menos frequentes, mas os desafios m?dicos de Gigi ainda s?o significativos.

'Ela n?o?senta sozinha, n?o rola, n?o faz nada s?', disse Gleyse.

Gigi precisa de um ortopedista, mas n?o h? m?dicos suficientes e ela est? h? muito tempo em listas de espera.

Gleyse sofre levando a cadeira de rodas de sua filha no transporte p?blico. Poucos ?nibus t?m elevadores que funcionam, e mesmo assim alguns motoristas j? se recusaram a ajud?-la.

'As pessoas n?o respeitam os direitos da minha filha', disse. Outras m?es j? compartilharam com Gleyse hist?rias semelhantes, incluindo quando um passageiro se recusou entrar no ?nibus com 'aquele dem?nio', em refer?ncia a um beb? com microcefalia.

Dificuldades como essa fizeram com que Gleyse criasse a Uni?o de M?es de Anjos (UMA), que fornece ajuda e apoio log?stico a m?es de crian?as com microcefalia. O grupo agora ajuda mais de 250 fam?lias em Pernambuco.

Gleyse disse que algumas m?es abandonaram seus filhos devido ?s muitas dificuldades, enviando-os para morar com av?s ou outros parentes. Ela est? determinada a criar um espa?o no mundo para crian?as como Gigi. Seu conselho para outras m?es ?: 'N?o desistam dos seus filhos nunca.'

MILAGRE

Alguns anos atr?s, Jackeline Vieira de Souza, de 28 anos, lutou para superar uma rara complica??o de uma gravidez anterior e sobreviveu a um c?ncer.

'O meu sonho era ser m?e de novo', disse.

Em 2015, seu sonho virou realidade. Mas, durante a gravidez, Jackeline descobriu que o filho, Daniel Vieira de Oliveira, tinha microcefalia.

'Quando eu vi rosto, o jeitinho dele, eu me apaixonei de cara. Eu sabia que esse menino iria ser algo muito bom na minha vida. Eu sabia que as dificuldades iriam vir, mas tamb?m a alegria.'

O pai de Daniel se separou de Jackeline pouco depois de descobrir que o filho tinha microcefalia. Ele paga uma pequena pens?o aliment?cia todos os meses, que ? somada ao aux?lio mensal que Jackeline ganha do governo.

A viagem de ?nibus entre a casa de Jackeline, em Olinda, e onde Daniel faz tratamentos, em Recife, demora horas. Ultimamente, essas viagens t?m sido menos frequentes, e Jackeline acredita que a sa?de de Daniel ? mais est?vel.

Ela sabe que seu filho nunca ir? andar, comer sozinho ou ter uma vida normal. Mesmo assim, Jackeline ? grata por seu 'milagre', que diz a fazer se sentir 'feliz e mais realizada'.

ESPERAN?A E DESESPERO

Rosana Vieira Alves, de 28 anos, tem tr?s filhas, mas quase toda sua aten??o ? dedicada ? mais nova, Luana Vieira da Silva, de 3 anos.

'A rela??o entre elas ? de?ci?mes uma com a outra. Eu gosto de todas, ? que Luana precisa de mais cuidados... Com o tempo elas v?o entender isso', disse.

Rosana n?o tem nenhuma ajuda da fam?lia e sofre para pagar gastos com moradia e os rem?dios de Luana. Ela afirma ter sido uma vit?ria conseguir uma cadeira de rodas para a filha, e se preocupa com as quatro cirurgias que Luana precisa para corrigir problemas com seus olhos, est?mago e a posi??o de seu quadril e p?s.

As exig?ncias j? levaram Rosana a momentos dif?ceis, e ela confessa ter considerado cometer suic?dio. Mas ela ainda sonha com um futuro melhor e espera estudar contabilidade ou engenharia civil.

'Tenho?certeza que um dia ainda vou chegar l?', disse.

Escrito por Redação

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